Archive by Author | Daniel Noversa

Congresso Internacional: “Migrações e Comunicação na Era Planetária: Debates e Ações”

As migrações são hoje um tópico com visível presença no debate público-mediático e no discurso político. Torna-se, portanto, um tema com relevo e que merece ser discutido colectivamente, bem como urge ser aprofundado e expandido.

Paul Klee, Gefecht, 1930

Até 30 de novembro de 2024, o projeto MigraMediaActs dá oportunidade para que trabalhos desenvolvidos sobre este tópico em particular possam ser submetidos para o Congresso “Migrações e Comunicação na Era Planetária: Debates e Ações”, que se realiza entre 29 e 30 de abril de 2025, na Universidade do Minho, em Braga.

As propostas serão revistas por pares e os resultados da avaliação serão enviados até ao dia 20 de janeiro de 2025. Os resumos devem ser submetidos no formulário disponível no site do projeto.

Valorizando a diversidade linguística e a diversidade de formas de comunicação, as propostas (de comunicações orais, painéis e intervenções artísticas) podem ser submetidas em português, inglês, espanhol ou francês, mas as sessões não terão tradução simultânea. O congresso terá sessões presenciais e online.

Partindo de abordagens inter e transdisciplinares, fomentando o diálogo entre diversas áreas do conhecimento e diferentes tipos de saberes, o principal objetivo deste congresso é debater a forma como os estudos da comunicação, da cultura e das migrações podem desafiar noções existentes de diáspora, identidades, culturas, nação, família, literacia, redes digitais, juventude, corpo, género, entre outras e contribuir para a construção de futuros mais justos e inclusivos.

Propõe-se discutir as múltiplas dimensões da comunicação, da arte e do ativismo social, para compreender o seu papel na (re)configuração de espaços e poéticas relacionais e na promoção de uma escuta atenta. Num contexto planetário fragmentado, marcado por “crises” quotidianas, este congresso propõe questionar, repensar e reconstruir percursos comunitários através da comunicação.

São bem-vindas contribuições sobre os seguintes tópicos e outras questões no domínio da comunicação e das migrações:

* Migrações, descolonização do conhecimento e comunicação da ciência
* Comunicação intercultural e média
* Ativismos mnemónicos, artes e média
* Cultura mediática, processos de racialização e interseccionalidades
* Produções mediáticas e práticas artísticas de pessoas migrantes e racializadas
* Migrações, média e investigação-ação
* Migrações, ativismo mediático e mudança social
* Experiências de (im)mobilidade e suas mediações
* Migrações e ecotransição
* Comparações transnacionais das práticas dos média na comunicação das migrações
* Representações mediáticas das migrações
* Experiências mediadas de migração familiar
* Tecnologias digitais e governança das migrações e das fronteiras
* Desafios e inovações nas metodologias para os estudos da comunicação e das migrações
* Outros, não nomeados, mas que estejam relacionados com a temática

Cartaz do Congresso

Inscrições Abertas para a Escola de Verão do GT de Jovens Investigadores da Sopcom

A 5ª edição da Escola de Verão do Grupo de Trabalho de Jovens Investigadores da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação terá lugar nos dias 16 e 17 de julho de 2024, no Instituto de Ciências Sociais, na Universidade do Minho e subordina-se ao tema “Desmistificar a Ciência: Da Produção à Publicação”.

Pretende-se que esta seja uma oportunidade para promover a formação de quem inicia a carreira de investigação em Ciências da Comunicação, procurando-se criar um espaço de encontro e diálogo entre jovens investigadores, bem como incentivar a partilha e a formação com investigadores séniores.

Alternando entre abordagens reflexivas e práticas, os participantes são convidados a desmistificar a ciência com mais de uma dezena de especialistas, explorando ferramentas conceptuais, metodológicas e técnicas.

Em modalidade presencial, nos dias 16 e 17, este será um espaço de construção e aprendizagem em torno das distintas etapas da produção científica até à publicação, bem como de envolvimento intergeracional e interdisciplinar.

Amadeo Souza-Cardoso, A clear house, 1916

Na semana que antecede o evento, de 8 a 12 de julho, os participantes podem contar com mentorias online sobre os seus projetos em curso.

O evento é organizado pelo Grupo de Trabalho de Jovens Investigadores da Sopcom e conta com o Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) como instituição de acolhimento e a Zet Gallery como entidade parceira do programa cultural que acontecerá no dia 16 de julho, às 18h00.

No último dia, haverá uma discussão em grupo em que se pretende que os participantes apliquem e consolidem os conhecimentos adquiridos nos dois dias de Escola através de uma dinâmica de brainstorming.

As inscrições já estão abertas e toda a informação pode ser encontrada no site do evento.

Ciclo de debates: “Gestão do património cultural: que futuro?”

No quadro das últimas alterações legislativas que prevêem mudanças significativas na gestão do Património Cultural, o Doutoramento em Estudos Culturais da Universidade do Minho, com o apoio institucional do Centro do Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) e da Escola de Letras, Artes e Ciências Humanas (ELACH), em parceria com Centro de Investigação em Justiça e Governação (JusGov) e o Centro Cidadania Digital & Sustentabilidade Tecnológica (CitDig), organiza um ciclo de debates, intitulado: “Gestão do património cultural: que futuro?”

Estas iniciativas vão ocorrer nos dias 29 de novembro e 6 de dezembro, na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, em Braga, entre as 21h e as 23h.

Amadeo de Souza-Cardoso, Fortaleza, 1912.

Segundo o programa abaixo, o primeiro debate, subordinado ao tema, “Novo quadro legal da gestão do património cultural”, conta com a participação de Elvira Rebelo (DRCN), Susana Marques (TNSJ), Pedro Silva (ESE/PPorto) e Manuel Protásio (ED/UMinho). A conversa será moderada por Manuel Gama (CECS).

A segunda sessão dedica-se ao tema, “Exequibilidade do novo quadro legal da gestão do património cultural, implicações”, estarão presente Paulo Lopes Silva (CMG), Alexandra Lima (MDDSousa), Aida Mata (AAT) e Armando Malheiro (ASPA), e conta com a moderação do Professor Luís Cunha (ICS).

Cartaz programa do “Ciclo de Debates”

A modalidade dos debates segue uma dinâmica de conversa com moderação. Ou seja, o moderador vai lançando questões, mas as pessoas são livres de se interpelar em estilo de conversa. No final, haverá espaço para que o público presente faça questões.

Apelamos à presença daqueles que manifestam interesse por estas questões e desejam participar no debate!

Robert Walser: o poeta que semeia na neve

Não sou mais do que alguém que escuta e espera, nisso porém sou exímio, pois aprendi a sonhar enquanto espero.

(Robert Walser, Os Imãos Tanner, Trad. Isabel Castro Silva, Lisboa, Relógio d’água, p. 212)

Robert Walser nasce a 15 de Abril de 1878, em Biel, na Suíça. Morre durante um passeio matinal no dia de Natal, em 1956, perto do asilo psiquiátrico onde esteve internado, voluntariamente, e onde se manteve durante uns vinte anos. Escritor solitário e artesanal, pouco reconhecido no seu tempo. Admirado por autores como Franz Kafka, Robert Musil, Walter Benjamin, Elias Canetti, W. G. Sebald, Roberto Calasso e Enrique Vila-Matos. Publicou três romances, nomeadamente “Os Irmãos Tanner”, “O ajudante” e “Jakob von Gunten”. Para além destes, escreveu os seus célebres 526 microgramas (textos minúsculos com uma escrita insondável) que deram origem ao denominado “território do lápis”.

Não há, nos seus textos, quaisquer segredos a serem desvendados; são textos que resguardam a Esfinge ao abismo. O sentido liquidifica-se na sua exaltação ao nada, quer dizer, na sua apologia ao insignificante. E se significado houvesse a descobrir, ele diluísse no corpo do texto como uma pele sulcada de ironia e hidratada por uma linguagem aflorada de ambiguidade que resvala, continuamente, para uma mistificação das certezas mais básicas do ser humano. A sua “proverbial tagarelice” (Sobrado, 2020, p. 15) chega também, muitas vezes, a roçar a elegância de uma garça.

Na introdução do livro de poemas, recentemente publicado em Portugal, intitulado Estou só e fora do Mundo, escreve João Barrento que os escritos de Walser, põem “em cena uma dança de palavras, sem pronunciar qualquer juízo, quando muito uma postura irónica, uma forma de penetração subtil da realidade, numa linguagem do paradoxo que combina a transparência com a ambiguidade” (Barrento, 2022, pp.8-9).

Yann Tiersen – Tempelhof (Recorded at The Eskal)

O olhar perverso, e ferverosamente sarcástico, que Robert Walser traz para os seus escritos, é o que mais admiro nele. As facadas de ironia nos seus textos, que desconcertam o leitor, assemelham-se a “salteadores à beira do caminho, que irrompem armados e retiram ao passeante a sua convicção” (Benjamin, 1992, p. 98). Diz Pedro Sobrado, que são uma retirada estratégica para “se eclipsar do próprio discurso (…) para iludir a ausência de qualquer intencionalidade ou orientação” (Sobrado, 2020, p. 15). Pronunciam a sua renúncia radical pelo amplexo do sentido, revelam a sua indiferença pelas certezas da vida. Walser escreve numa constante contradição, num rasgar e remendar, entrando em labirintos discursivos em que tudo é um continuum de prelúdios que nos devolvem o irreparável e o inexplicável, um estado indefinido do seu pensamento.

Nas obras de Walser, explica Pedro Sobrado, “insinua-se um fluxo informe, o prazer da vagabundagem, a fascinação pelo infinitamente pequeno e insignificante, o gosto em perder-se e não chegar a lado nenhum” (Sobrado, 2020, p. 26).

Walser é ele mesmo uma valsa. Escreve como se dança e se passeia. Os seus escritos e a sua vida são exemplo disso.

Rui Massena – Valsa (live)

Toda a sua escrita e pensamento se afigura decisivamente a um passeio alado e errático. Com os pés no chão, mas com a cabeça a sobrevoar as nuvens.

Ludovico Einaudi – Einaudi: Nuvole Bianche (Live From The Steve Jobs Theatre / 2019)

Sempre desarmante, avesso à elevação, considerando-se ele mesmo “um zero encantador, muito redondo”, Robert Walser, não impõe qualquer sentido, nunca reclama sobre seja o que for, olha para as coisas do mundo apenas com exaltado espanto, sabendo sempre que “Das coisas mais insignificantes / sairão pássaros cantantes / pousados no ramo da tua existência” (Walser, 2022, p. 107).

Benjamin Clementine – I Won’t Complain

Tudo para ele tem a sua significância e esplendor: “o mais ínfimo dos seres vivos, seja uma criança, um cão, um mosquito, uma borboleta, um pardal, um verme, uma flor, um homem, uma casa, uma árvore, uma sebe, um caracol, um rato, uma nuvem, uma montanha, uma folha, ou simplesmente um insignificante pedacito de papel deitado fora” (Walser, 2001, p. 69).

Nos seus textos, Walser enobrece os objectos mais infinitamente inúteis e banais, conferindo-lhe uma dignidade que está para lá da sua inutilidade e inanidade. Diz Schneider: “para Robert Walser, tudo é papel: a casa, a rua, o asilo, os campos, os lagos, a neve, o céu, o rosto da mãe. E mesmo a noite: a noite sem estrelas” (Schneider, 2011, p. 260).

The National – Eucalyptus (Official Video)

Walser é um poeta que cultiva “a arte de fracassar em beleza”; um daqueles escritores que era capaz de fazer falar a madeira ou a pedra mais dura da calçada.

As suas personagens, sem personalidade formada, vivem sempre numa espécie de limbo existencial (Agamben, 1993, p. 14), ora trágico ora aberrante; habitam numa espécie de antecâmara, nessa sala de espera quase a pedirem licença para existirem. As personagens de Walser chegam a ver a luz alva da manhã, mas a muito custo chegam à noite para contemplar a lua e as estrelas.

The National – ‘Light Years’

Considerava-se um “senhor ninguém”, diz que “eu nasci para me perder / num horizonte esquecido” (Walser, 2022, p. 31). Mas eu cá continuo a imaginá-lo a semear na neve flores que sorriem.

Agamben, G. (1993). Do limbo. In A comunidade que vem (pp.13-14). Editorial Presença.

Benjamin, W. (1992). Rua de Sentido único e Infância em Berlim por volta de 1900. Relógio d’água.

Schneider, M. (2011). Dançar com as palavras. In Mortes Imaginárias (pp. 259-263). Livros Cotovia.

Sobrado, P. (2020). Quase nada. Defesa e interpretação de Robert Walser. Edições Húmus.

Walser, R. (2022). Estou só e fora do Mundo. Sr Teste edições.

Walser, R. (2001). O Passeio e outras Histórias. Granito Editores e Livreiros.