bolos de bacia
A Simone é brasileira. Vive há uns bons anos em Braga e diz que não tem saudades de voltar ao Brasil. Só da família. Um destes dias, enquanto me arranjava as unhas, fomos pelo Sertão adentro. Contou-me que nasceu e viveu no mato, enquanto criança. Falou-me da casa simples feita de adobe; dos banhos no rio; da noite escura, sem qualquer luz, porque era preciso poupar o querosene; do milho que se transformava em cuscuz para se comer ao pequeno almoço; da mandioca e da trabalheira que era transformá-la em farinha; das frutas que havia por todo lado, e que nós nem imaginamos os sabores e as variedades; das idas à feira, uma vez por mês, para vender fruta e comprar querosene; dos avós e em particular da avó, uma mulher dura que mandava em tudo, sofredora o suficiente para aguentar a vida no mato e o nascimento de 18 filhos; do apelido Rocha, quiçá, descendente de portugueses; das cobras que atormentavam o quotidiano, com o seu canto perturbador, e de uma anaconda que um dia resolveu enrolar-se numa mangueira centenária…
A conversa derivou para os doces
Mas falámos também dos doces. Não havia doces, dizia ela, só uma vez por mês quando iam à feira e o avô permitia a compra de quebra-queixo, um doce vendido em tabuleiro feito de coco e açúcar. Mas lá foi falando, também, do pé de moleque, que a avó fazia de vez em quando, um creme doce feito à base de leite de coco, ovos e farinha de mandioca, que ía a cozer ao forno embrulhado em folha de bananeira; da rapadura, feita com a cana de açúcar, tão dura que quase partia os dentes, e dos bolos de bacia feitos pela mãe, num tempo mais tardio, quando já viviam na cidade. Foi aqui que me deu um clique. Bolos de bacia? E como eram feitos? – perguntei. Eram uns bolinhos fritos feitos de farinha, leite, às vezes ovos, tudo amassado, colherada a colherada no óleo quente, e no final envolvidos em açúcar. Ora, desses também eu comi quando era criança, respondi-lhe. A minha mãe também fazia estes bolinhos, mas não lhe dava nome nenhum. Chamava-lhe simplesmente bolo fritos.
Um doce com história
Todavia, aquela denominação era-me familiar porque a encontro em receituários do século XVII e XVIII. Os bolos de bacia são uma espécie de bolo tradicional português de épocas mais antigas. A receita está registada no primeiro livro impresso de cozinha português, da autoria de Domingos Rodrigues, editado em 1680, mas encontramo-la também num outro receituário manuscrito, com data atribuída de meados do mesmo século, e na obra do espanhol Francisco Martinez Moutiño, editada pela primeira vez em 1611. E continua pelo século XVIII a ser anotada em outros receituários. Tudo isto nos faz perceber que já se fazem bolos de bacia desde o século XVI, sendo as receitas muito similares. Contudo, nada têm a ver com esta versão brasileira de finais do século XX.
Os tais bolos de bacia eram feitos com massa finta, esticada ao tamanho da bacia (tabuleiro), recheada com diferentes ingredientes, conforme as posses e as circunstâncias, em camadas alternadas de massa e recheio, e levada ao forno na dita bacia devidamente untada. Domingos Rodrigues, a cozinhar para a família real, sugere um recheio de amêndoa pisada, manjar branco e ovos moles. A receita de meados do século XVII apenas utiliza açúcar.
Ora, esta receita deve ter sido levada para o Brasil, numa altura em que os dois países eram um só, num abraço de duas vivências, bem diferentes, havendo uma clara troca de sabores e saberes. No Brasil do século XVII (e nos séculos seguintes) não abundava o trigo para fazer pão. Olhando o receituário brasileiro percebemos a existência de uns bolos de bacia à moda de Pernambuco, feitos com farinha de mandioca e coco. O nome manteve-se, mas a receita foi-se alterando à medida dos recursos existentes. Na região de Alagoas, nos anos 80, a mãe da Simone fazia uns bolos de bacia, com poucos recursos e sem irem ao forno. Um docinho com que alegrava o lanche das filhas. Nesta longa duração as receitas foram-se alterando porque as pessoas, os gostos e os recursos também mudaram. Em Portugal o nome e o doce perderam-se no tempo. O Brasil, porém, mantém esta tradição de continuar a usar palavras que os portugueses já esqueceram há muito.
Bolos de bacia, uma designação secular que fica bem num doce moderno! Um encontro de culturas e de identidades culinárias!
A Receita
Para quem quiser perder algum tempo na cozinha e depois refastelar-se com um docinho cheio de história:
Bolos de basia (1)
Tomarão massa de boum pão molete (2) quando está pera deitar no forno, e fasão folhas desta maneira: molharão hũa piquena de massa em manteiga derretida, e estenda-na quanto puderem com a mão, e então toma-las-ão duas molheres, e estenda-nas ambas com os dedos o mais delgado que puderem, e ponha-na em hũa bacia de fartens, e antre folha e folha lhe deitem por sima delas duas ou 3es culher[es] de asuquere posto em ponto com hũa piquena de manteiga, e isto a cada folha até que seja da grandeza que quiserem. E então leve-no a cozer ao forno, e coza de seu vagar até que se embeba o asuquere nele.
- ADV, manuscrito 142, fl. 59. Publicada em: Ramos, Anabela e Claro, Sara – Alimentar o corpo, saciar a alma: ritmos alimentares dos monges de Tibães, séc. XVII. DRCN, Afrontamento, 2013, p. 214.
- Pão de trigo, mole, fresco e pequeno, semelhante à actual carcaça ou papo-seco.
Hoje o dia está peneirado!
A língua portuguesa, apesar de a tratarmos tão mal, com acordos mal engendrados e pouco esclarecedores, é de uma riqueza infindável e permanentemente viva, com novas palavras que emergem diariamente e outras que vão entrando em desuso.
É desta riqueza que hoje venho falar porque um destes dias, numa manhã fria de Janeiro, ouvi a seguinte expressão a uma minhota de gema: “hoje o dia está peneirado”, referindo-se à geada que se tinha formado durante a noite e que tornava a paisagem branca como a farinha. Quando isto ouvi esbocei um sorriso pela beleza da expressão e, de imediato, o meu pensamento voou para alguém, qual figura alada, que, durante a noite, tivesse andado, montado num tapete voador ou numa nave espacial, com uma peneira e um saco de farinha a peneirar a terra. E tinha feito isto apenas porque lhe apetecia brincar, deixando os pobres terrestres a olhar o branco da paisagem e a tiritar de frio por uma horas, até vir o sol e, magicamente, desaparecer tudo até ao outro dia.

Esta expressão levou-me para o linguajar regional e das palavras novas que aprendi quando vim residir para o Minho. Ainda não estou enraizada, mas, de vez em quando, já digo, sem me aperceber, uma ou outra palavra ou…um palavrão! É que de tal modo são comuns por estas bandas que à custa de tanto os ouvirmos começam a ser-nos familiares. Mas, ao inverso, também aprendi a não dizer certas palavras e expressões, mais típicas da região beirã, para não deparar com o olhar interrogado de alguns.
Mas olhemos algumas diferenças do nosso linguajar. Comecemos pelo tempo meteorológico onde os minhotos têm algumas particularidades. Habituados a um clima mais ameno chamam “neve” à geada, e ao granizo, que nós chamamos “saraiva”, exageram um pouco e vem daí “pedraça”. Quando faz aguaceiros, entendem que há “chuveiros” e quando troveja dizem que “trovoa”.
Para se referirem aos miúdos chamam-lhe “canalha”, o que para nós é um insulto, e a franja do cabelo são as “rêpas”. Na Beira “rêpas” é um cabelo mal penteado, por isso nunca disse no cabeleireiro que queria cortar as “rêpas”, sinto até algum pudor em utilizar a palavra. Assim como também ainda não consigo dizer “passador”, em vez do “travessão” ou gancho do cabelo.
Na linguagem gastronómica também nos diferenciamos. Por exemplo, na Beira diz-se que o pão está “ressesso”, palavra que ninguém conhece no Minho. Aqui dizem que o pão é “atrasado”. Ao comprar alfaces no mercado deparo-me com a expressão genérica de “salada” ou “selada”, mais popular. As abóboras são “cabaças” ou jerimus e o arroz malandro aqui é “arroz fresco”, a fugir pelo prato fora como deve ser! O “chícharo” aqui vira “feijão-galego” ou “miúdo” e no resto do país feijão-frade, palavra que agora se vai generalizando. Atenção que o chícharo noutras regiões é outra variedade de feijão! Mas também não me esqueço que o “conduto”, ou seja, o prato que se segue à sopa, por cá denomina-se “presigo”. E nós, beirões, quando queremos descascar umas batatas usamos, no nosso linguajar mais popular, a palavra “esbrugar”, assim como “caldeiro” para designar balde, palavras que vão caindo em desuso.
Se falarmos dos ramos das árvores, pernadas ou cavacos, aqui temos que lhes chamar “canos” e as cavacas assumem a denominação de “canhotas”. Vai daí também a caruma vira “pruma”.
Com os meus filhos também aprendi alguma linguagem escolar. As “burronas” são as nossas canetas de feltro e as “safas” são as borrachas. Quando se brinca à apanhada não se diz “apanhei-te” mas “cacei-te”.
E a propósito de crianças lembrei-me das festas de anos. Os meus filhos habituados, desde muito pequenos, a comemorar o aniversário na escola, deles e dos colegas, diziam com toda a naturalidade que estavam a “bufar“ às velas, ou seja, “soprar”. E eu corrigia: diz “sopra” porque “bufa” é outra coisa….! A língua portuguesa é muito traiçoeira!
A Inteligência Artificial e Seus Herdeiros

No universo dos videojogos, confesso-me um old school. Tenho uma máquina arcade em casa, com jogos das décadas de 80 e 90. Ainda prefiro a estética 2D. Mas é inegável o impacto do 3D, da inteligência artificial (AI) e do Machine Learning (ML) no desenvolvimento dos videojogos em particular, bem como na economia em geral. Só a título de exemplo, recordo que a partir de 2020, as receitas da indústria de videojogos ultrapassaram as indústrias do cinema e do desporto (1).
Um dos jogos que pratico com regularidade é o jogo de damas. Considero que a vida comum, a monótona e que nos envolve todos os dias, é mais parecida com um jogo de damas do que de xadrez. No xadrez há reis, rainhas, bispos, cavalaria, etc. Mas isso não se reflete na lógica de uma microssociologia, onde o plano vigente é o da proximidade entre peças, e onde as hierarquias e vantagens não são feitas de grandes poderes; antes de pequenos movimentos, de pequenas antecipações, de pequenas flexões para encaminhar o próximo a agir.
Habitualmente, jogo damas contra o computador. E ele usa machine learning (ML). E eu uso aprendizagem humana. É uma dança constante. No início de cada nível, perco. Depois uso essa espécie de ultra-instinto baseado na aprendizagem, e ganho. Subo de nível, e tudo recomeça: a máquina ganha até eu perceber como posso ganhar. E depois ganho eu. Subo de nível até ao topo. E no topo tenho, já, muita dificuldade em ganhar. Tenho que memorizar jogadas, sequências, usar muitas vezes o ‘undo’ para entender o sucedido. E só assim ganho, depois de muito treino.
Em fevereiro de 2023, um advogado robô vai defender um humano. Com um tipo de AI. Não se sabe ainda qual a sua base de dados, se apenas jurídica ou se complexa e capaz de misturar boas práticas humanas com aberturas legais. Veremos como se desenrola o processo (2).
Billy Corgan, vocalista dos Smashing Pumpkins, considera que o futuro da música será um domínio completo da AI. Se atualmente o eletrónico já domina na maioria dos processos musicais, no futuro a junção de eletrónico com AI será uma certeza. O rocker considera que o músico que dominar a produção musical com AI dificilmente terá rivais (3).
Já foram produzidas músicas em AI. Ao grupo dos 27, o projeto Lost Tapes aplicou um processo de produção completa de letra, música e voz de artistas que já não se encontram entre os vivos. Entre Jimi Hendrix, Amy Winehouse, entre outros, o projeto Lost Tapes também aplicou o processo aos Nirvana, ressuscitando Kurt Cobain e traços das suas capacidades de composição e interpretação. O resultado é muito bom, nas músicas You’re Going To Kill Me (Jimi Hendrix), Man I Know (Amy Winehouse) e Drowned in the sun (Nirvana).
Apesar das potencialidades infinitas, e de resultados muito bons, há ainda coisas que falham na AI. Acho que posso sintetizar essas falhas com o exemplo das damas e com a expressão ‘Somos mais do que as máquinas’, cantada por Gavin Rossdale (dos Bush).
Com as damas, reparo que o ML será sempre melhor do que eu porque o jogo é fechado. É apenas aquilo. As regras são simples e as possibilidades finitas. A ML do jogo pensa 3 a 4 jogadas à frente, com memória infalível. Se eu pensar em 5 à frente, ele aumenta para 6. E assim sucessivamente. Dificilmente terei hipótese dentro deste tipo de jogos.
Mas com a música, ou eventualmente com a decisão de um juiz, tudo será diferente. Estamos já em ambientes mais infinitos (mais na música do que na justiça, obviamente). Como refere Gavin Rossdale, ‘Somos mais do que máquinas porque sentimos’.
E sentir é algo que a AI, por mais engendrada com o ML, nunca conseguirá fazer. Quando o Kurt Cobain criou a Sappy, misturou o amor por uma tartaruga, as memórias do seu lar infantil meio distorcido, uma depressão profunda e uma adição poderosa às drogas. Não há AI que deste combinado retire o que quer que seja. Passem os anos que passarem. Como pode a AI criar a partir de fundos que não tem? De emoções que não conhece? De razões que não obedecem a qualquer lógica?
Mais: como pode uma máquina ler um texto de Franz Kafka e produzir um som tão obscuro quanto aquilo que é a reticência do pensamento kafkiano? A obscuridade que não está no texto, mas que reside na paisagem imaginária e comum de mentes que se leem e tornam gémeas?
Não pode a AI mas pode o humano. É o caso do texto At Night (de Franz Kafka) e da música At Night, dos The Cure. No texto de Kafka, é-nos apresentada a continuação da ideia de um vigilante sempre presente. E da noite, aquele silêncio em que só um olhar divino pode controlar. O texto reza assim:
“Deeply lost in the night. Just as one sometimes lowers one’s head to reflect, thus to be utterly lost in the night. All around people are asleep. It’s just play acting, an innocent self-deception, that they sleep in houses, in safe beds, under a safe roof, stretched out or curled up on mattresses, in sheets, under blankets; in reality they have flocked together as they had once upon a time and again later in a deserted region, a camp in the open, a countless number of men, an army, a people, under a cold sky on cold earth, collapsed where once they had stood, forehead pressed on the arm, face to the ground, breathing quietly. And you are watching, are one of the watchmen, you find the next one by brandishing a burning stick from the brushwood pile beside you. Why are you watching? Someone must watch, it is said. Someone must be there.” (4)
Robert Smith, líder carismático dos The Cure, recria At Night a partir do texto de Kafka não como um pintor de paisagens, mas como um pintor de sons (5). Há, nesta diferimitação (imitação diferenciada e transdutiva), toda uma sinistra atmosfera que só a maior sincronia mental e artística poderia refletir o escrito. Saberá sequer o que é uma transdução, a AI? Não me parece…nem o humano sabe do que são feitas essas comunicações entre diferentes matérias…
O ideal mesmo é ler Kafka e, simultaneamente, ouvir esta At Night.
Contudo, e já que crescem as aplicações da AI no mundo humano, seria interessante ver a sua aplicação ao mais finito mundo da corrupção. Sobretudo na ajuda à gestão da transparência nas democracias. Dava jeito a Portugal termos uma máquina incorruptível, cumpridora, zelosa, para enfrentarmos o futuro. Se assim fosse, o pântano em que mergulhamos atualmente não existiria…
(3)https://radarlisboa.fm/2022/09/27/billy-corgan-critica-industria-musical/
(4)https://www.goodreads.com/quotes/10478175-deeply-lost-in-the-night-just-as-one-sometimes-lowers
Prenda de Natal. Os anjos também cantam

Dita-me a memória que o 25 de dezembro é o dia menos pré-ocupado do ano. Toda a atividade exterior suspensa, saídas só para visitar familiares. Não vai longe para encontrar um bar aberto era indispensável uma varinha de condão. Os minutos arrastam-se ecoando num vazio programático! Pior só durante a estada no estrangeiro em que nem sequer familiares havia para visitar. Uma promessa de pasmo prolongado. Por isso mesmo, uma ocasião de ouro para se entregar a entretenimentos exigentes em tempo: ver um filme, folhear lentamente um livro ilustrado, ouvir um concerto de música.
Margens convida-o a assistir a um concerto de música sacra espanhola medieval, que dura 80 minutos. Nem mais, nem menos. No dia 19 de julho de 2013, todos os astros se conjugaram para proporcionar um espetáculo único: o local (a catedral românica de Elne, nos Pireneus Orientais), a interpretação (Maîtrise de Radio France e Les Musiciens de Saint-Julien), as obras (Llibre Vermell de Montserrat e Cantigas de Santa Maria), a promoção (Festival de Radio France e Languedoc-Roussillon), o público (generoso e atento) e o registo audiovisual (envolvente e dinâmico, dirigido por Olivier Simonnet). Um regalo para todos os gostos.
Laranjas de Portugal. Receitas com história

Anabela Ramos publicou em abril de 2022 um novo livro: Laranjas de Portugal – Séculos de cultura e consumo, na Ficta Editora. Mais uma obra suculenta dedicada à história da gastronomia. A quarta e última parte do livro reúne várias receitas culinárias com laranjas, desde o século XVI até à atualidade. Em tempo de doçura, Margens entende oportuno partilhar esta compilação. Segue um pdf, para consultar ou descarregar, com a folha de rosto, as referências da edição, o sumário e a parte IV com as receitas.
Manifestam-se vários e notáveis os escritos recentes da Anabela Ramos. Além do referido Laranjas de Portugal, publicou, com coordenação de João Abreu, Jesuítas da Moura – Dois Séculos de uma Doce História, dedicado aos dois séculos da pastelaria Moura, de Santo Tirso, editado pela Idioteque, em maio de 2022, colaborou no Referencial Gastronómico do Minho, editado em outubro de 2021, e contribuiu para o livro coletivo Sociologia Indisciplinada, editado, pela Húmus, em novembro de 2002, com um texto curioso, e delicioso, sobre o percurso de um monge do século XVIII deveras controverso. Um balanço positivo em ano de tanta desgraça.

“Está a terminar sereno o ano de 2022, mas foi um ano inesperadamente difícil e tortuoso.
Contudo, também foi um tempo de virem à luz alguns textos escritos em tempos anteriores.
Obrigado Rafael Oliveira pelo convite para um mergulho na gastronomia minhota – Referencial gastronómico do Minho.
Obrigado Albertino Gonçalves pelo convite para a sua “Sociologia indisciplinada”, que me inspirou na reorganização de alguns textos soltos sobre um monge beneditino, também ele indisciplinado, que viveu nos idos de 1700 – Indisciplinas conventuais.
Obrigado Ficta Editora pelo desafio para finalmente dar corpo às ” Laranjas de Portugal”, que agora me levam para outros caminhos.
Obrigado João Abreu, pelo prazer que foi ter conhecido a Luísa e o Joaquim Moura (Pastelaria Moura – Santo Tirso)que, nos idos de 1891, iniciaram um sonho que ainda não terminou – jesuítas da Moura / Idioteque .
Neste Natal, boas leituras!
P.s. Claro que não posso esquecer o Reseed Project que me acompanhou em alguns textos (Anabela Ramos: https://www.facebook.com/photo?fbid=6220016058031426&set=a.2602352153131186).

Anabela Ramos é natural de Mangualde e vive há mais de vinte anos em Braga. É licenciada em História, Mestre em História Moderna, pela Universidade de Coimbra e pós-graduada em Ciências Documentais, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Trabalhou no Arquivo Distrital de Viseu e presentemente exerce funções na Direcção Regional de Cultura do Norte. É ainda membro do projecto ReSEED, da Universidade de Coimbra.
Paralelamente, e no âmbito da sua actividade profissional, tem realizado vários trabalhos de investigação histórica, centrando-se no campo da história social da época moderna, de que se destacam os seguintes títulos publicados: Violência e justiça em terras do Montemuro (1708-1820) (1998); Casas solarengas do concelho de Mangualde (2009); Alimentar o corpo e saciar a alma: ritmos alimentares dos monges de Tibães, séc. XVII (2013); O cidrão: na história, no campo e na mesa (2014); Viúvas de Braga e outros doces do Convento dos Remédios (2019); Receitas e Remédios de Francisco Borges Henriques: inícios do século XVIII (2020)” (excerto da capa do livro Laranjas de Portugal).
Guitarra amiga
Guitarrista talentoso, Francisco Berény Domingues nasceu em 1995 no Porto, mas tem raízes de estimação em Melgaço. Iniciou os estudos musicais aos 11 anos. Frequentou o Curso de Música Silva Monteiro. Participou em vários recitais em Portugal e Espanha, destacando-se a sua apresentação na Assembleia da República, na Câmara Municipal do Porto onde teve o papel de solista com a Orquestra Juvenil da Bonjóia, no Palacete Viscondes Balsemão, no Festival Musicatos, no Festival 20.21 Évora Música Contemporânea e no Ciclo Novos Talentos no Teatro do Rivoli. No passado dia 22 de novembro, estreou-se na Casa da Música com um recital em nome próprio.

Com obras que lhe são dedicadas pelos compositores Amílcar Vasques Dias, Diogo Novo Carvalho e Pedro Rodrigues (para o trio de guitarras Trium), foi contemplado por vários prémios: 3º prémio na categoria superior do Concurso Internacional de Almada, 3º prémio no Concurso Internacional de Leiria, 2º prémio no Concurso Internacional do Fundão e Menção Especial do Juri na IV Mostra Musical de Villagarcia de Arousa.
Com um número apreciável de contactos de “Masterclasse”, concluiu uma licenciatura em “performance” de guitarra, frequentou o Mestrado em Ensino de música na Universidade de Aveiro e é diplomado pela Universidade Mozarteum em Salzburgo.
No dia 29 de novembro, interpretou, generosamente, para um público seduzido, Giuseppe Antonio Brescianello, Francisco Tárrega e Antonio Ruiz-Pipó (vídeo 1). Contudo, para além da guitarra clássica, Francisco Bereny tem particular afeição pela guitarra contemporânea. Seguem três interpretações: Serenades of the Unicorn, de Einojuhani Rautavaara; Uma Serpente na Yuca, que lhe é dedicada pelo compositor Amílcar Vasques Dias; e Ruo, com Diogo Novo Carvalho, que também é o compositor (vídeos 2 a 4).
Sociologia indisciplinada
Organizado por Rita Ribeiro, Joaquim Costa e Alice Matos, Sociologia Indisciplinada é um livro coletivo da área das ciências sociais cujo lançamento ocorreu no Museu Arqueológico D. Diogo de Sousa, em Braga, no dia 29 de novembro. Segue o vídeo da apresentação pela Rita Ribeira. Acresce um pdf com as referências de edição, a folha de rosto, o índice e a nota de abertura.
O livro está disponível na livraria Centésima Página e no Centro de Estudos Comunicação e Sociedade, em Braga.
Margens. Cultura, Arte e Imaginário
O mundo académico já não se caracteriza pelo resguardo face à necessidade e à urgência, pela scholé, de que fala Pierre Bourdieu, fonte de desprendimento e liberdade. Enveredou por outro destino: a burocracia e o mercado, ambos globalizados segundo um padrão que lembra um fractal. O mesmo esquema repete-se, ineludível, nos diversos níveis, componentes e escalas: aparelhos, aparatos e plataformas; programas, metas e métricas; normalização, certificação e controlo; carreiras, cálculos e concursos; peritagens, anonimatos e abstrações; dependência, diligência e repetição; sobreaquecimento e aceleração artificiais.
Hegemónico, tendencialmente exclusivo, este quadro prevalece na organização e no quotidiano da produção e da comunicação do conhecimento. O imprevisível, o comunitário, o local, o singular e o coeficiente humanístico perdem espaço, suporte e incentivo. Quem não se reconhece nesta dinâmica arrisca tornar-se um estranho e uma anomalia, senão um estorvo. Precisa respirar outros ares, demandar horizontes mais propensos à idiossincrasia, originalidade e realização pessoal. Importa aventurar-se nas dobras, nos interstícios e nas margens.
O blogue Margens emerge neste contexto. Reúne um círculo de cientistas sociais, da área da cultura, da arte e do imaginário, ligados por relações de proximidade, interconhecimento e amizade. Propõe-se partilhar textos e imagens, ensaios, apontamentos e comentários, sem compromissos de agenda, escrita, tipo, forma ou tema. Com uma vocação lúdica e franca: aberta, gratuita e liberta de tutelas. Híbrido, omnívoro, errante, inconstante e polifónico, Margens não é um blogue académico, sem deixar de o ser. Uma aposta num bosque de frutos incertos.
Quem somos?
Administradores: Albertino Gonçalves e Rita Ribeiro
Editor: Pedro Costa
Autores: Abel Coentrão; Aida Mata; Álvaro Domingues; Ana Macedo; Anabela Ramos; António Amaro das Neves; Armando Malheiro da Silva; Carlos Eduardo Viana; Daniel Maciel; Daniel Noversa; Diana Gonçalves; Eduardo Pires de Oliveira; Esser Jorge Silva; Gonçalo Fagundes; Helena Pires; Henrique Barreto Nunes; Isabel Macedo; Isabel Silva; Jean-Martin Rabot; João Gonçalves; Joaquim Costa; Luís Cunha; Madalena Oliveira; Miguel Bandeira; Moisés de Lemos Martins; Paulo Oliveira; Samuel Silva; Valter Alves.
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