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Santo Antão da Barca: Transladação, festa e história de um lugar em Alfândega da Fé (Excertos)

Santo Antão da Barca. Alfândega da Fé

As festas são fenómenos multifacetados, abrangentes e mobilizadores em que as coletividades se (re)veem, (re)compõem e (re)atualizam. Oferecem-se como um dos temas privilegiados das ciências sociais. Vários colegas do Departamento de Sociologia, da Universidade do Minho, dedicaram-lhes pesquisas e publicações, nomeadamente o António Joaquim Costa e o Jean-Yves Durand. No que me respeita, abordei a romaria da Sra. da Agonia, de Viana do Castelo, e várias festividades de Cabeceiras de Basto. Encontra-se no prelo o livro São João de Sobrado. A festa da Bugiada e Mouriscada, de que sou coautor com a Rita Ribeiro, o Manuel Pinto, o Alberto Fernandes, o Luís Cunha e o Luís António Santos. O Fernando Bessa Ribeiro, atual diretor do Departamento de Sociologia, coordenou a obra Santo Antão da Barca: Transladação, festa e história de um lugar em Alfândega da Fé,  editada pela Húmus em 2019 (a partir de um relatório redigido em 2014). Trata-se do resultado de uma investigação coletiva (que inclui, também, textos de Paulo Jablonski, Luísa Cortinhas e Manuela Ribeiro; e fotos de Pedro Colaço do Rosário, Guilherme Roseler Carvalho e Ismael Afonso) motivada pela perspetiva de submersão da capela de Santo Antão da Barca pela construção de uma albufeira para produção de energia elétrica no rio Sabor. O capítulo 6, “A vida também é feita de fé e de festa: Procissões e arraiais em Santo Antão da Barca”, da autoria de Paulo Jablonski e Luísa Cortinhas, manifesta-se particularmente interessante não só por configurar um bom exemplo de etnografia da organização de uma festa popular mas também pela relevâncias de algumas observações. Por exemplo, cumpre às mulheres a “tarefa de enfeitar os andores”, com a exceção do Divino Salvador da Barca, porque, por tradição, “‘só os homens podem ver o Divino Salvador da Barca despido’. Os homens ficam sozinhos na Capela, fecham a porta e mudam-Lhe a roupa” (pág. 202). Segue um pdf com excertos do livro Santo Antão da Barca: Transladação, festa e história de um lugar em Alfândega da Fé: a capa, a folha de rosto, o Índice Geral, a Introdução, o Capítulo 6 e as Considerações Finais.   

Fernando Bessa Ribeiro é Doutorado em Ciências Sociais e agregado em Sociologia. É Professor Associado do Departamento de Sociologia da Universidade do Minho e Investigador Integrado do CICS.NOVA.UMinho. Capitalismo e desenvolvimento, género e sexualidade e infeção pelo VIH/sida constituem os seus principais temas de investigação, sobre os quais publicou diversos livros e artigos em revistas nacionais e estrangeiras.

Tempos peregrinos

Lá vai um, lá vão dois, três peregrinos a passar. Na vintena de vezes diárias que o vício me conduz à varanda, impressiona-me a quantidade de peregrinos que formigam rumo a Santiago de Compostela. Isolados ou aos molhos, de todas as idades, géneros e feitios, compatriotas ou estrangeiros, com ar sofrido ou prazeroso. Juntam-se a outros tantos que marcham, correm ou pedalam com homologa devoção. Outras promessas e outros rituais, estes sem destino longínquo, em circuito fechado.

Hoje, sensibilizou-me um caso especialmente pungente: um idoso, na casa dos setenta, deficiente motor, com a cabeça completamente pendida para a frente e uma extensa cicatriz no pescoço na linha da coluna vertebral, protegido com óculos de mergulhador, arrastava-se cambaleante mas sem qualquer indício de hesitação. E o mais marcante: solitário!

Imagem: Jacques Callot. Os dois peregrinos, da séire Os mendigos. 1622-23

Agradecimento ou promessa? Sofrimento ou consolo? Gestos sacrificiais ou hedonistas? Sagrados, profanos ou secularizados? Porventura, ambos. Vem a propósito destas (revigoradas e ressignificadas) formas de penitência o texto do Luís Cunha, “A Experiência do Tempo num Espaço Sinalizado: Peregrinação e Dinâmica Social”, publicado no livro coletivo Sociologia Indisciplinada (Húmus, 2022).

Luís Cunha, professor da Universidade do Minho, doutorado em Antropologia, é autor de A nação nas malhas da sua identidade (1994), Memória social em Campo Maior (2006) e Vinte mil léguas de palavras (2017; Prémio Nacional do Conto Manuel da Fonseca 2016).

André Soares em Viana do Castelo

Por Eduardo Pires de Oliveira

Na última conversa ao telemóvel com o Eduardo Pires de Oliveira estava a ler o livro André Soares em Viana do Castelo, que repousava, com os óculos, na cama. Sugeriu-me que tirasse uma fotografia

A repetição faz parte da poesia, da música e da rotina. Assim como da imagem e da decoração. Nada, portanto, como copiar e colar:

“Segundo Marshall McLuhan (A Aldeia Global, 1992), o cérebro divide-se em dois hemisférios: o esquerdo, visual, mais racional, e o direito, acústico, mais emocional. Na Modernidade, prevalece o lado esquerdo” (https://tendimag.com/2023/07/30/barbas-salutares/).

McLuhan também se aventura na seriação da história da humanidade em três idades em função do meio/ambiente de comunicação preponderante: oralidade, impresso e eletrónica. Entre a oralidade e o impresso, intercala-se ainda o manuscrito (sobre as consequências da passagem da oralidade para a escrita, ver Jack Goody, The Domestication of the Savage Mind, 1977). Com a invenção da imprensa e o advento da “galáxia Gutenberg”, o “homem tipográfico” tende a afastar-se da mundividência, caraterística da oralidade, do tribal, do global, do mosaico, da miscelânea, da irregularidade, do paradoxo, do multicentrado, em suma, de um espaço “cujo centro está em toda a parte e a circunferência em parte nenhuma” (Pascal, Blaise, Pensamentos, 1670. Artigo XVII). Passa a inscrever-se num espaço clássico, geométrico, ordenado e sequencial, alvo de uma abordagem individualizada, abstrata, especializada, hierarquizada, objetiva, focada, linear, analítica e classificatória. Com os novos meios de comunicação, tais como a rádio e a televisão, começa uma nova idade, a “galáxia Marconi”, em que prevalece o audiovisual. Neste novo ambiente ressurgem propensões e formas que lembram a idade da oralidade, principalmente o “homem tribal” da “aldeia global” (Marshall McLuhan, The Gutenberg Galaxy: The Making of Typographic Man, 1962).

De acústico e visual, de eletrónico e tipográfico, de tribal e individual, todos temos um pouco. Cada qual a seu jeito. Quer-me parecer que o Eduardo Pires de Oliveira consegue alterná-los, oscilando entre ambos os registos. Nas conversas e nas visitas guiadas emociona-se, dispersa-se, idealiza e opina. Entusiasma-se e entusiasma. Em contrapartida, quando produz um texto de teor científico cinge-se a descrever, classificar e contextualizar sem se dispersar. Disciplina-se e disciplina. A voz do coração e a letra da razão, o amor à arte e o rigor da ciência, lado a lado.

Igreja de São Domingos. Retábulo de Nossa Senhora do Rosário. Fotografia de Adelino Pinheiro da Silva

Eduardo Pires de Oliveira acaba de publicar um livro dedicado a André Soares em Viana do Castelo. Incide sobre os retábulos da Igreja de São Domingos, da Igreja da Senhora da Agonia e da Capela das Malheiras. Pelo caminho, apresenta “o mais importante artista português do tardobarroco e do rococó (…) sem par quer em Portugal, quer na Europa do seu tempo”. Dá-nos a conhecer, de forma detalhada, aprofundada e circunstanciada, a “obra do mestre” através do olhar de um especialista, sem derivas nem fabulações. A “voz do coração” e da paixão pela arte ficam à porta, resumindo-se à nota introdutória (“O porquê deste livro”) ou aguardam pela saída, despedindo-se no “Encerramento”. Quando muito, insinua-se algum incómodo perante a atribuição demasiado apressada, e provavelmente falsa, do desenho da capela das Malheiras a André Soares. Não sendo, efetivamente, da autoria de André Soares, pode estranhar-se que lhe seja dedicado um capítulo inteiro. Na verdade, a caraterização da capela torna-se imprescindível à demonstração da nova interpretação proposta. Acresce que André Soares não está apenas presente na materialidade dos retábulos mas também na mente, ajustada ou equivocada, das pessoas, nomeadamente dos “entendidos”. Nesta perspetiva, a parcimónia do título do livro não deixa margens para dúvidas: André Soares em Viana do Castelo, nem mais, nem menos. Para além da obra, abrange a figura.

Igreja da Senhora da Agonia. Retábulo-mor. Fotografia de Adelino Pinheiro da Silva

Está prevista uma visita guiada às obras de André Soares na cidade de Viana do Castelo no sábado dia 16 de setembro. Começará às 14:30 na Igreja da Senhora da Agonia, passará pela Igreja de São Domingos e terminará na Capela das Malheiras, onde será promovido um novo lançamento do livro. Será uma oportunidade para surpreender a outra face do Eduardo Pires de Oliveira, mais pródiga, veemente, interativa e envolvente.

Segue um pdf com excertos do livro André Soares em Viana do Castelo, nomeadamente a capa, a ficha técnica, a nota introdutória “O porquê deste livro”, o capítulo 1 sobre o André Soares, o capítulo 4 dedicado à Capela das Malheiras, uma seleção de imagens, o “Encerramento” e o Índice.

Emilio Cao: A Voz Galega e a Harpa Celta

Emilio Cao

A harpa integra os instrumentos da música dita celta. Está presente na Galiza, na Bretanha, na Cornualha, no País de Gales, na Irlanda e na Escócia. Curiosamente, não é o caso do Minho, apesar de partilhar raízes congéneres. Em cada um destes territórios, destacam-se harpistas célebres, tais como o bretão Alan Stivell, o irlandês Derek Bell (dos Chieftains), a escocesa Phamie Gow, a galesa Catrin Finch ou o galego Emilio Cao.

“Emilio Cao (Santiago de Compostela, 1953) es un músico, compositor y cantautor de música folk y tradicional gallega. Destacado intérprete de arpa celta y recuperador de este instrumento medieval en Galicia (…) Edita su primer disco en 1977: Fonte do Araño, e inicia su relación con otros intérpretes de dicho instrumento, como la galesa Elsie Thomas de Swansea o el bretón Alan Stivell. Estrecha también lazos con músicos portugueses del movimiento Cantores de abril (https://es.wikipedia.org/wiki/Emilio_Cao).

Atuou, tal como o Fausto e a Brigada Victor Jara, nos Encontros Culturais I de Castro Laboreiro, em 1986, a 15 de agosto, dia da feira do gado e do concurso do cão de Castro Laboreiro. Contemplando uma diversidade de atividades associadas às tradições locais, entre as quais a recolha de trajos típicos, tratou-se de uma iniciativa, ousada, que mobilizou um grupo considerável de jovens castrejos, em particular Alberto Enes, Almerinda Alves, António Alves e Aurora Domingues. Os filhos e os netos a empenhar-se na valorização e na revitalização dos usos e costumes dos avós e dos pais. Contaram com o apoio precioso de um não castrejo, o Mário Alves (Etnia, Caminha), notável conhecedor do meio artístico, que já nos tinha também ajudado alguns meses antes, em abril do mesmo ano, na realização de um espetáculo igualmente memorável no Theatro Circo, em Braga, no âmbito do XIII Congresso Europeu de Sociologia Rural.

Seguem um excerto de um artigo de Fernando Magalhães dedicado a uma interpretação de Emilio Cao na Mãe d’Água, em Lisboa, em 1991, e quatro canções, de outros tantos álbuns.

Emilio Cao, um dos expoentes da harpa céltica e da música tradicional da Galiza, por seu lado, estava positivamente encantado com a acústica e o ambiente do local. A sua harpa poucas vezes terá soado tão pura e ao mesmo tempo tão majestosa, como na ocasião. Jogando, por várias vezes, com “clusters” prolongados, conseguiu criar acordes e harmónicos que mais se assemelhavam às emanações de um órgão celestial. Cascatas de notas (o músico aludiu ao paralelo entre os sons da harpa e a água) que desaguaram no dedilhar prciso (arrancou estrelas das cordas, trazendo o céu da Galiza para o lago oculto no centro de Lisboa) dos instrumentais célticos e na suavidade contida do canto, de “Fonte do Arano” ou “Amiga Alba e Delgada”. Silêncio interior, reverberado nas notas infinitas da harpa e na comoção das centenas de pessoas que, ostentando no rosto expressões de autêntico êxtase, comungaram com a água, a luz e as intimistas liturgias tradicionais do músico galego. No final, muitos foram aqueles que, querendo talvez continuar a ascese, subiram a estreita escada de pedra que conduz ao terraço da construção, agora transformado em esplanada, para ver, como se fosse a primeira vez, a linha quebrada que une o céu aos telhados de Lisboa (Fernando Magalhães, Cao na Mãe d’Água, 16.06.1991, fmstereo: https://www.profelectro.info/fm/tag/emilio-cao/).

Emilio Cao. Baixaron As Fadiñas. Fonte do Araño. 1977
Emilio Cao. “E o tempo fiando un pano”. A Lenda da Pedra do Destiño. 1978
Emilio Cao. Ela Ergueu As Dúas Mans Ao Vento. “No Manto da Auga”. 1982

Mais novidades sobre a programação do MDOC – Festival Internacional de Documentário de Melgaço

Cinema Autobiográfico, será este o tema central do Fora de Campo, o Curso de Verão promovido pelo MDOC – Festival Internacional de Documentário de Melgaço. O programa para este evento de 31 de julho a 6 de agosto pretende articular e pôr em contacto experiências criativas de proveniências diversas – de cineastas, associações científicas e artísticas e investigadores de universidades e produtores culturais, países e continentes diversos. O programa detalhado pode ser consultado no site do evento, assim como os orientadores selecionados para este ano

À semelhança do que aconteceu nas anteriores edições, o MDOC integrará ainda duas Residências no quadro da programação Plano Frontal: uma cinematográfica e outra na área da fotografia. As residências do Plano Frontal têm como destinatários os alunos em final de curso que frequentam Escolas do Ensino Superior de Cinema, de Audiovisuais e Fotografia, ou que tenham concluído recentemente a sua formação. As candidaturas já se encontram abertas nas plataformas digitais do festival. 

O MDOC voltará ainda a integrar o espaço X-RAYDOC, momento onde se faz a análise de filmes cuja importância seja indiscutível para uma História do documentário. Em análise, este ano, estarão Stravinsky (Canadá, 1966, 49′) e Lonely Boy (Canadá, 1962, 26′) de Roman Kroitor e Wolf Koenig. A conversa conta com as participações de Jorge Campos e Luís Mendonça. 

Uma nota sobre as Cineférias, um programa de condições especiais para acesso ao festival destinado a alunos dos cursos de Cinema, Audiovisuais ou de Comunicação. Os detalhes e condições podem ser consultados no site

Mais informações e regulamento em http://www.mdocfestival.pt.

Viúvas de Braga…sem filtros

Consultando os dicionários sobre o significado da palavra “comer” concluímos, naturalmente, que é o acto ou efeito de ingerir alimentos. Todavia, também sabemos que significa destruição porque, na verdade, destruímos tudo o que ingerimos. Por essa razão a palavra foi entrando na gíria popular em diferentes contextos e com um significado metafórico. Comem-se os políticos uns aos outros, às vezes em sessões públicas; comem-se as equipas de futebol – até os comemos -, diz-se por aí. Comem-se jesuítas, no sentido claro da destruição da Ordem, comem-se “viúvas”… Vem tudo isto a propósito de um doce, denominado “viúvas”, saído do convento feminino dos Remédios, edificado no centro de Braga em meados do século XVI. Inicialmente apelidavam-se “pasteis dos Remédios”, depois, por volta de 1766, a sociedade bracarense passou a chamá-lo por “viúvas” ou “viuvinhas”. E assim continuou até ao século XX, mesmo depois da extinção do convento, nos finais do século XIX, agora a confeccionar-se nas pastelarias da cidade.

Fotografia da Confeitaria Primorosa, Braga, 1942 (Bandeira, Miguel Melo – Braga d’outros tempos: fotografias do arquivo da foto aliança. Braga: Museu da Imagem, 2005, p. 149)

Mas há uma pergunta que nos interpela: de onde vem esta denominação? Alguns relatos orais dizem-nos que nos inícios do século XX este doce era vendido pelas viúvas na festa do Espírito Santo. Era assim um “doce de viúvas”. Será que esta tradição já viria do século XVIII? Será que as freiras dos Remédios faziam das mulheres viúvas, economicamente mais frágeis, suas representantes comerciais na cidade de Braga, e, em particular, nas festas populares? É uma explicação para a qual não temos uma certeza absoluta. Mas, convenhamos que é uma boa explicação.

Seja como for, este doce teve grande sucesso comercial na segunda metade do século XVIII, especialmente nos conventos beneditinos masculinos, e também provavelmente nos restantes, embora desses não tenhamos conhecimento. Desde Tibães a Ganfei, junto à fronteira com a Galiza, passando por Miranda, nos Arcos de Valdevez, e indo até São Romão de Neiva, junto ao mar, em todos se comiam viúvas, especialmente na festa de São Bento, celebrada em Março e em Julho.

O novo moralismo do Estado Novo

No tempo do Estado Novo (1933-1974), um novo moralismo foi imposto à sociedade. O regime político instalado rapidamente criou um conjunto de códigos sociais que enfatizavam uma imagem de um país feliz, equilibrado, patriótico, com uma história de que se orgulhava, e com um vasto império que sentia e confluía no mesmo espírito agregador. Ora, nesta sociedade, que se pretendia modelada e feliz, sobressaíam normas morais e comportamentais, devidamente policiadas e controladas pelas diferentes forças de segurança. E é aqui que entram os doces que, desde os séculos anteriores, se foram popularizando com nomes e formas tendencialmente sexualizadas. Entre eles destaco os gonçalinhos de Amarante (em forma fálica), os manjares brancos de Coimbra (em forma de mama), ou as viúvas de Braga.

Esta sociedade, cinicamente moralista, rapidamente acabou com estas tradições doceiras. Bastava uma cartinha, muito provavelmente do Governo Civil, dirigida às pastelarias existentes na cidade, a proibir o fabrico. Terminava sempre com um solene “a bem da nação” e tudo ficava resolvido. Foi mais difícil, contudo, proibir as doceiras populares, que, por exemplo, faziam os gonçalinhos. O controlo policial chegava às festas e romarias, mas não impedia que as doceiras vendessem os doces nas suas próprias casas, às escondidas e fora do controlo policial.

No caso de Braga sabemos que era, e é, uma cidade clerical. A Roma de Portugal, como se passou a chamar no século XX. A presença deste doce pode, de facto, ter causado alguns incómodos sociais e dado origem a algumas brincadeiras jocosas sobre o significado metafórico da expressão “comer uma viúva”. O poder central incomodou-se e reagiu.

Ficava mal vista a cidade de Braga onde os clérigos, e não só, se refastelavam com… “viúvas”. É verdade que também havia os fidalguinhos, com que as senhoras se deliciavam ao chá. Mas esses ainda hoje não causam perturbação social. Porque será?

A nova era de viúvas

As viúvas caíram no esquecimento subsistindo, apenas, num ou noutro receituário. Em 2004 surgiu uma investigação histórica que as colocou novamente na praça pública. Recolheram-se as receitas antigas, e percebeu-se, com toda a certeza, que o doce nasceu no Convento dos Remédios. Fizeram-se provas. Publicou-se um livro com todas as receitas encontradas.

 A comercialização começou lentamente a alavancar.  Mas será que a cidade as voltaria a aceitar?   É uma pergunta que contínua no ar…

Vendem-se já por aí em uma ou outra pastelaria, segundo as receitas mais antigas. Mas também há pasteleiros que recriaram novas receitas de viúvas. Feitas com massa folhada, recheadas com um creme de ovo e umas amêndoas palitadas à mistura. Uma novidade que não tem nada a ver com a massa das verdadeiras viúvas, feita a preceito com farinha e manteiga, muito menos com o recheio, constituído apenas com amêndoa, ovos e açúcar. São os novos tempos do fast e do mix pasteleiro, ao qual basta juntar água e já está pronto a rechear qualquer doce.

E neste vaivém de receitas e de heranças culturais percebemos uma certa resistência social a este doce, que, sendo bem feito e seguindo as receitas antigas, é uma pequena delícia. Apresenta-se em forma de chapéu de clérigo, porque, afinal, eram eles os principais clientes, e tem o tamanho, o sabor e a textura ideais para acompanhar uma chávena de chá, um café ou um cálice de vinho do Porto.

Um doce que está aí para desafiar os nossos preconceitos e os nossos moralismos. Porque afinal o “doce de viúvas” pode ter uma razão de existência bastante caritativa.

Atrevam-se a seguir as receitas, a meter as mãos na massa ou a procurá-las nas poucas pastelarias das cidade e…  provar!

créditos fotográficos: Mário Brandão.

Lição de Jubilação do Professor Doutor Moisés Martins

É particularmente grato ao Margens partilhar o vídeo com a Lição de Jubilação do Professor Doutor Moisés Martins e a homenagem que a acompanhou, na Universidade do Minho, no dia 6 de março de 2023.

Lição de Jubilação do Professor Doutor Moisés Martins. Universidade do Minho. 6 de março de 2023

bolos de bacia

A Simone é brasileira. Vive há uns bons anos em Braga e diz que não tem saudades de voltar ao Brasil. Só da família. Um destes dias, enquanto me arranjava as unhas, fomos pelo Sertão adentro. Contou-me que nasceu e viveu no mato, enquanto criança. Falou-me da casa simples feita de adobe; dos banhos no rio; da noite escura, sem qualquer luz, porque era preciso poupar o querosene; do milho que se transformava em cuscuz para se comer ao pequeno almoço; da mandioca e da trabalheira que era transformá-la em farinha; das frutas que havia por todo lado, e que nós nem imaginamos os sabores e as variedades; das idas à feira, uma vez por mês, para vender fruta e comprar querosene; dos avós e em particular da avó, uma mulher dura que mandava em tudo, sofredora o suficiente para aguentar a vida no mato e o nascimento de 18 filhos; do apelido Rocha, quiçá, descendente de portugueses; das cobras que atormentavam o quotidiano, com o seu canto perturbador, e de uma anaconda que um dia resolveu enrolar-se numa mangueira centenária…

A conversa derivou para os doces

Mas falámos também dos doces. Não havia doces, dizia ela, só uma vez por mês quando iam à feira e o avô permitia a compra de quebra-queixo, um doce vendido em tabuleiro feito de coco e açúcar. Mas lá foi falando, também, do pé de moleque, que a avó fazia de vez em quando, um creme doce feito à base de leite de coco, ovos e farinha de mandioca, que ía a cozer ao forno embrulhado em folha de bananeira; da rapadura, feita com a cana de açúcar, tão dura que quase partia os dentes, e dos bolos de bacia feitos pela mãe, num tempo mais tardio, quando já viviam na cidade. Foi aqui que me deu um clique. Bolos de bacia? E como eram feitos? – perguntei. Eram uns bolinhos fritos feitos de farinha, leite, às vezes ovos, tudo amassado, colherada a colherada no óleo quente, e no final envolvidos em açúcar. Ora, desses também eu comi quando era criança, respondi-lhe. A minha mãe também fazia estes bolinhos, mas não lhe dava nome nenhum. Chamava-lhe simplesmente bolo fritos.

Um doce com história

Todavia, aquela denominação era-me familiar porque a encontro em receituários do século XVII e XVIII. Os bolos de bacia são uma espécie de bolo tradicional português de épocas mais antigas. A receita está registada no primeiro livro impresso de cozinha português, da autoria de Domingos Rodrigues, editado em 1680, mas encontramo-la também num outro receituário manuscrito, com data atribuída de meados do mesmo século, e na obra do espanhol Francisco Martinez Moutiño, editada pela primeira vez em 1611. E continua pelo século XVIII a ser anotada em outros receituários. Tudo isto nos faz perceber que já se fazem bolos de bacia desde o século XVI, sendo as receitas muito similares. Contudo, nada têm a ver com esta versão brasileira de finais do século XX.

Os tais bolos de bacia eram feitos com massa finta, esticada ao tamanho da bacia (tabuleiro), recheada com diferentes ingredientes, conforme as posses e as circunstâncias, em camadas alternadas de massa e recheio, e levada ao forno na dita bacia devidamente untada. Domingos Rodrigues, a cozinhar para a família real, sugere um recheio de amêndoa pisada, manjar branco e ovos moles. A receita de meados do século XVII apenas utiliza açúcar.

Ora, esta receita deve ter sido levada para o Brasil, numa altura em que os dois países eram um só, num abraço de duas vivências, bem diferentes, havendo uma clara troca de sabores e saberes. No Brasil do século XVII (e nos séculos seguintes) não abundava o trigo para fazer pão. Olhando o receituário brasileiro percebemos a existência de uns bolos de bacia à moda de Pernambuco, feitos com farinha de mandioca e coco. O nome manteve-se, mas a receita foi-se alterando à medida dos recursos existentes. Na região de Alagoas, nos anos 80, a mãe da Simone fazia uns bolos de bacia, com poucos recursos e sem irem ao forno. Um docinho com que alegrava o lanche das filhas. Nesta longa duração as receitas foram-se alterando porque as pessoas, os gostos e os recursos também mudaram. Em Portugal o nome e o doce perderam-se no tempo. O Brasil, porém, mantém esta tradição de continuar a usar palavras que os portugueses já esqueceram há muito.

Bolos de bacia, uma designação secular que fica bem num doce moderno! Um encontro de culturas e de identidades culinárias!

A Receita

Para quem quiser perder algum tempo na cozinha e depois refastelar-se com um docinho cheio de história:

Bolos de basia (1)

Tomarão massa de boum pão molete (2) quando está pera deitar no forno, e fasão folhas desta maneira: molharão hũa piquena de massa em manteiga derretida, e estenda-na quanto puderem com a mão, e então toma-las-ão duas molheres, e estenda-nas ambas com os dedos o mais delgado que puderem, e ponha-na em hũa bacia de fartens, e antre folha e folha lhe deitem por sima delas duas ou 3es culher[es] de asuquere posto em ponto com hũa piquena de manteiga, e isto a cada folha até que seja da grandeza que quiserem. E então leve-no a cozer ao forno, e coza de seu vagar até que se embeba o asuquere nele.

  1. ADV, manuscrito 142, fl. 59. Publicada em: Ramos, Anabela e Claro, Sara – Alimentar o corpo, saciar a alma: ritmos alimentares dos monges de Tibães, séc. XVII. DRCN, Afrontamento, 2013, p. 214.
  2. Pão de trigo, mole, fresco e pequeno, semelhante à actual carcaça ou papo-seco.

  Hoje o dia está peneirado!

            A língua portuguesa, apesar de a tratarmos tão mal, com acordos mal engendrados e pouco esclarecedores, é de uma riqueza infindável e permanentemente viva, com novas palavras que emergem diariamente e outras que vão entrando em desuso.

            É desta riqueza que hoje venho falar porque um destes dias, numa manhã fria de Janeiro, ouvi a seguinte expressão a uma minhota de gema: “hoje o dia está peneirado”, referindo-se à geada que se tinha formado durante a noite e que tornava a paisagem branca como a farinha. Quando isto ouvi esbocei um sorriso pela beleza da expressão e, de imediato, o meu pensamento voou para alguém, qual figura alada, que, durante a noite, tivesse andado, montado num tapete voador ou numa nave espacial, com uma peneira e um saco de farinha a peneirar a terra. E tinha feito isto apenas porque lhe apetecia brincar, deixando os pobres terrestres a olhar o branco da paisagem e a tiritar de frio por uma horas, até vir o sol e, magicamente, desaparecer tudo até ao outro dia.

            Esta expressão levou-me para o linguajar regional e das palavras novas que aprendi quando vim residir para o Minho. Ainda não estou enraizada, mas, de vez em quando, já digo, sem me aperceber, uma ou outra palavra ou…um palavrão! É que de tal modo são comuns por estas bandas que à custa de tanto os ouvirmos começam a ser-nos familiares. Mas, ao inverso, também aprendi a não dizer certas palavras e expressões, mais típicas da região beirã, para não deparar com o olhar interrogado de alguns.

            Mas olhemos algumas diferenças do nosso linguajar. Comecemos pelo tempo meteorológico onde os minhotos têm algumas particularidades. Habituados a um clima mais ameno chamam “neve” à geada, e ao granizo, que nós chamamos “saraiva”, exageram um pouco e vem daí “pedraça”. Quando faz aguaceiros, entendem que há “chuveiros” e quando troveja dizem que “trovoa”.

            Para se referirem aos miúdos chamam-lhe “canalha”, o que para nós é um insulto, e a franja do cabelo são as “rêpas”. Na Beira “rêpas” é um cabelo mal penteado, por isso nunca disse no cabeleireiro que queria cortar as “rêpas”, sinto até algum pudor em utilizar a palavra. Assim como também ainda não consigo dizer “passador”, em vez do “travessão” ou gancho do cabelo.

             Na linguagem gastronómica também nos diferenciamos. Por exemplo, na Beira diz-se que o pão está “ressesso”, palavra que ninguém conhece no Minho. Aqui dizem que o pão é “atrasado”. Ao comprar alfaces no mercado deparo-me com a expressão genérica de “salada” ou “selada”, mais popular. As abóboras são “cabaças” ou jerimus e o arroz malandro aqui é “arroz fresco”, a fugir pelo prato fora como deve ser! O “chícharo” aqui vira “feijão-galego” ou “miúdo” e no resto do país feijão-frade, palavra que agora se vai generalizando. Atenção que o chícharo noutras regiões é outra variedade de feijão! Mas também não me esqueço que o “conduto”, ou seja, o prato que se segue à sopa, por cá denomina-se “presigo”. E nós, beirões, quando queremos descascar umas batatas usamos, no nosso linguajar mais popular, a palavra “esbrugar”, assim como “caldeiro” para designar balde, palavras que vão caindo em desuso.

            Se falarmos dos ramos das árvores, pernadas ou cavacos, aqui temos que lhes chamar “canos” e as cavacas assumem a denominação de “canhotas”. Vai daí também a caruma vira “pruma”.

            Com os meus filhos também aprendi alguma linguagem escolar. As “burronas” são as nossas canetas de feltro e as “safas” são as borrachas. Quando se brinca à apanhada não se diz “apanhei-te” mas “cacei-te”.

            E a propósito de crianças lembrei-me das festas de anos. Os meus filhos habituados, desde muito pequenos, a comemorar o aniversário na escola, deles e dos colegas, diziam com toda a naturalidade que estavam a “bufar“ às velas, ou seja,   “soprar”. E eu corrigia: diz “sopra” porque “bufa” é outra coisa….! A língua portuguesa é muito traiçoeira!

A Inteligência Artificial e Seus Herdeiros

No universo dos videojogos, confesso-me um old school. Tenho uma máquina arcade em casa, com jogos das décadas de 80 e 90. Ainda prefiro a estética 2D. Mas é inegável o impacto do 3D, da inteligência artificial (AI) e do Machine Learning (ML) no desenvolvimento dos videojogos em particular, bem como na economia em geral. Só a título de exemplo, recordo que a partir de 2020, as receitas da indústria de videojogos ultrapassaram as indústrias do cinema e do desporto (1).

Um dos jogos que pratico com regularidade é o jogo de damas. Considero que a vida comum, a monótona e que nos envolve todos os dias, é mais parecida com um jogo de damas do que de xadrez. No xadrez há reis, rainhas, bispos, cavalaria, etc. Mas isso não se reflete na lógica de uma microssociologia, onde o plano vigente é o da proximidade entre peças, e onde as hierarquias e vantagens não são feitas de grandes poderes; antes de pequenos movimentos, de pequenas antecipações, de pequenas flexões para encaminhar o próximo a agir.

Habitualmente, jogo damas contra o computador. E ele usa machine learning (ML). E eu uso aprendizagem humana. É uma dança constante. No início de cada nível, perco. Depois uso essa espécie de ultra-instinto baseado na aprendizagem, e ganho. Subo de nível, e tudo recomeça: a máquina ganha até eu perceber como posso ganhar. E depois ganho eu. Subo de nível até ao topo. E no topo tenho, já, muita dificuldade em ganhar. Tenho que memorizar jogadas, sequências, usar muitas vezes o ‘undo’ para entender o sucedido. E só assim ganho, depois de muito treino.

Em fevereiro de 2023, um advogado robô vai defender um humano. Com um tipo de AI. Não se sabe ainda qual a sua base de dados, se apenas jurídica ou se complexa e capaz de misturar boas práticas humanas com aberturas legais. Veremos como se desenrola o processo (2).

Billy Corgan, vocalista dos Smashing Pumpkins, considera que o futuro da música será um domínio completo da AI. Se atualmente o eletrónico já domina na maioria dos processos musicais, no futuro a junção de eletrónico com AI será uma certeza. O rocker considera que o músico que dominar a produção musical com AI dificilmente terá rivais (3).

Já foram produzidas músicas em AI. Ao grupo dos 27, o projeto Lost Tapes aplicou um processo de produção completa de letra, música e voz de artistas que já não se encontram entre os vivos. Entre Jimi Hendrix, Amy Winehouse, entre outros, o projeto Lost Tapes também aplicou o processo aos Nirvana, ressuscitando Kurt Cobain e traços das suas capacidades de composição e interpretação. O resultado é muito bom, nas músicas You’re Going To Kill Me (Jimi Hendrix), Man I Know (Amy Winehouse) e Drowned in the sun (Nirvana).

Apesar das potencialidades infinitas, e de resultados muito bons, há ainda coisas que falham na AI. Acho que posso sintetizar essas falhas com o exemplo das damas e com a expressão ‘Somos mais do que as máquinas’, cantada por Gavin Rossdale (dos Bush).

Com as damas, reparo que o ML será sempre melhor do que eu porque o jogo é fechado. É apenas aquilo. As regras são simples e as possibilidades finitas. A ML do jogo pensa 3 a 4 jogadas à frente, com memória infalível. Se eu pensar em 5 à frente, ele aumenta para 6. E assim sucessivamente. Dificilmente terei hipótese dentro deste tipo de jogos.

Mas com a música, ou eventualmente com a decisão de um juiz, tudo será diferente. Estamos já em ambientes mais infinitos (mais na música do que na justiça, obviamente). Como refere Gavin Rossdale, ‘Somos mais do que máquinas porque sentimos’.

E sentir é algo que a AI, por mais engendrada com o ML, nunca conseguirá fazer. Quando o Kurt Cobain criou a Sappy, misturou o amor por uma tartaruga, as memórias do seu lar infantil meio distorcido, uma depressão profunda e uma adição poderosa às drogas. Não há AI que deste combinado retire o que quer que seja. Passem os anos que passarem. Como pode a AI criar a partir de fundos que não tem? De emoções que não conhece? De razões que não obedecem a qualquer lógica?

Mais: como pode uma máquina ler um texto de Franz Kafka e produzir um som tão obscuro quanto aquilo que é a reticência do pensamento kafkiano? A obscuridade que não está no texto, mas que reside na paisagem imaginária e comum de mentes que se leem e tornam gémeas?

Não pode a AI mas pode o humano. É o caso do texto At Night (de Franz Kafka) e da música At Night, dos The Cure. No texto de Kafka, é-nos apresentada a continuação da ideia de um vigilante sempre presente. E da noite, aquele silêncio em que só um olhar divino pode controlar. O texto reza assim:

“Deeply lost in the night. Just as one sometimes lowers one’s head to reflect, thus to be utterly lost in the night. All around people are asleep. It’s just play acting, an innocent self-deception, that they sleep in houses, in safe beds, under a safe roof, stretched out or curled up on mattresses, in sheets, under blankets; in reality they have flocked together as they had once upon a time and again later in a deserted region, a camp in the open, a countless number of men, an army, a people, under a cold sky on cold earth, collapsed where once they had stood, forehead pressed on the arm, face to the ground, breathing quietly. And you are watching, are one of the watchmen, you find the next one by brandishing a burning stick from the brushwood pile beside you. Why are you watching? Someone must watch, it is said. Someone must be there.” (4)

Robert Smith, líder carismático dos The Cure, recria At Night a partir do texto de Kafka não como um pintor de paisagens, mas como um pintor de sons (5). Há, nesta diferimitação (imitação diferenciada e transdutiva), toda uma sinistra atmosfera que só a maior sincronia mental e artística poderia refletir o escrito. Saberá sequer o que é uma transdução, a AI? Não me parece…nem o humano sabe do que são feitas essas comunicações entre diferentes matérias…

O ideal mesmo é ler Kafka e, simultaneamente, ouvir esta At Night.

Contudo, e já que crescem as aplicações da AI no mundo humano, seria interessante ver a sua aplicação ao mais finito mundo da corrupção. Sobretudo na ajuda à gestão da transparência nas democracias. Dava jeito a Portugal termos uma máquina incorruptível, cumpridora, zelosa, para enfrentarmos o futuro. Se assim fosse, o pântano em que mergulhamos atualmente não existiria…

(1)https://www.noticiasaominuto.com/tech/1653350/receita-da-industria-dos-videojogos-ultrapassa-cinema-e-desporto

(2)https://rr.sapo.pt/noticia/mundo/2023/01/12/inedito-advogado-robo-vai-defender-caso-em-tribunal/315618/

(3)https://radarlisboa.fm/2022/09/27/billy-corgan-critica-industria-musical/  

(4)https://www.goodreads.com/quotes/10478175-deeply-lost-in-the-night-just-as-one-sometimes-lowers

(5)https://musicnonstop.uol.com.br/dois-classicos-da-banda-the-cure-foram-diretamente-inspiradas-em-franz-kafka-saiba-quais-sao