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Dionísio na Universidade e o sentido de comunidade num mundo às avessas

Terminam amanhã, 10 de maio, as “Monumentais Festas do Enterro da Gata ’24”. Este tipo de rituais estudantis inspiraram-me dois textos: “Dionísio na Universidade: a praxe como rito de passagem” (UMboletim, 1997); e “O sentido de comunidade num mundo às avessas: o imaginário grotesco nas tradições académicas de Braga” (FORUM, 2001). Há, portanto, mais de duas décadas que ando às voltas com o “mundo às avessas” (cf. “A benção escatológica num mundo às avessas – os serviços da tarde na festa de São João de Sobrado”, 2024).

Seguem, em pdf, os artigos “Dionísio na Universidade: a praxe como rito de passagem” (UMboletim, 45. 7 Abril 1997, pág. 1-2); e “O sentido de comunidade num mundo às avessas: o imaginário grotesco nas tradições académicas de Braga” (FORUM 30, Jul-Dez 2001. Pág. 77-91).

Santo Antão da Barca: Transladação, festa e história de um lugar em Alfândega da Fé (Excertos)

Santo Antão da Barca. Alfândega da Fé

As festas são fenómenos multifacetados, abrangentes e mobilizadores em que as coletividades se (re)veem, (re)compõem e (re)atualizam. Oferecem-se como um dos temas privilegiados das ciências sociais. Vários colegas do Departamento de Sociologia, da Universidade do Minho, dedicaram-lhes pesquisas e publicações, nomeadamente o António Joaquim Costa e o Jean-Yves Durand. No que me respeita, abordei a romaria da Sra. da Agonia, de Viana do Castelo, e várias festividades de Cabeceiras de Basto. Encontra-se no prelo o livro São João de Sobrado. A festa da Bugiada e Mouriscada, de que sou coautor com a Rita Ribeiro, o Manuel Pinto, o Alberto Fernandes, o Luís Cunha e o Luís António Santos. O Fernando Bessa Ribeiro, atual diretor do Departamento de Sociologia, coordenou a obra Santo Antão da Barca: Transladação, festa e história de um lugar em Alfândega da Fé,  editada pela Húmus em 2019 (a partir de um relatório redigido em 2014). Trata-se do resultado de uma investigação coletiva (que inclui, também, textos de Paulo Jablonski, Luísa Cortinhas e Manuela Ribeiro; e fotos de Pedro Colaço do Rosário, Guilherme Roseler Carvalho e Ismael Afonso) motivada pela perspetiva de submersão da capela de Santo Antão da Barca pela construção de uma albufeira para produção de energia elétrica no rio Sabor. O capítulo 6, “A vida também é feita de fé e de festa: Procissões e arraiais em Santo Antão da Barca”, da autoria de Paulo Jablonski e Luísa Cortinhas, manifesta-se particularmente interessante não só por configurar um bom exemplo de etnografia da organização de uma festa popular mas também pela relevâncias de algumas observações. Por exemplo, cumpre às mulheres a “tarefa de enfeitar os andores”, com a exceção do Divino Salvador da Barca, porque, por tradição, “‘só os homens podem ver o Divino Salvador da Barca despido’. Os homens ficam sozinhos na Capela, fecham a porta e mudam-Lhe a roupa” (pág. 202). Segue um pdf com excertos do livro Santo Antão da Barca: Transladação, festa e história de um lugar em Alfândega da Fé: a capa, a folha de rosto, o Índice Geral, a Introdução, o Capítulo 6 e as Considerações Finais.   

Fernando Bessa Ribeiro é Doutorado em Ciências Sociais e agregado em Sociologia. É Professor Associado do Departamento de Sociologia da Universidade do Minho e Investigador Integrado do CICS.NOVA.UMinho. Capitalismo e desenvolvimento, género e sexualidade e infeção pelo VIH/sida constituem os seus principais temas de investigação, sobre os quais publicou diversos livros e artigos em revistas nacionais e estrangeiras.

Noite, Serão e Concurso dos Medos em Melgaço – 20 e 28 de outubro

Em Melgaço, em outubro,  a noite é dos medos. Na próxima sexta, dia 20, ocorre a segunda sessão dos Serões dos Medos, numa cozinha antiga de uma casa incrível mas acolhedora de que sou, de algum modo, uma espécie de anfitrião. No sábado, dia 28, será a “noite dos medos” propriamente dita: um concurso e uma dramatização coletiva tremenda pelas ruas e no castelo. A aproveitar porque só acontece uma vez por ano, num tempo excecional de comunhão entre mortos e vivos. Para consultar o programa, carregar na seguinte imagem do cartaz ou neste link: https://www.cm-melgaco.pt/noite-dos-medos/.

Para antecipar o ambiente das próximas noites em Melgaço, segue uma interpretação genial da ária “Ah mio cor”, da ópera Alcina, (1735), composta por Georg Friedrich Händel.

Georg Friedrich Händle. Ah mio cor. Alcina, Ato 2. Soprano: Julia Kirchner; marionete: Manuela Linshalm. Konzerthaus Wien, 26 de maio de 2021

Natais há muitos. Boas festas!

Por Miguel Bandeira

Recente, ainda quase sem visitantes, o blogue Margens faz questão de desejar boas festas. O “postal”, alusivo à cooperação internacional, é do Miguel Bandeira e o texto, atento à diversidade de mundivivências do Natal, da Rita Ribeiro. Abordam o reverso da atual encenação artificial da felicidade: a solidão e o sofrimento de parte substantiva da população. Temas pouco habituais neste tipo de mensagens. Convém, todavia, recordar que este reverso menosprezado foi outrora a principal vocação do Natal: a solidariedade e a partilha de modo a preservar a coesão social. Nas sociedades agrárias, a falta de cereais sentia-se já pelo Natal e ameaçava a sobrevivência até às próximas colheitas. Morria-se mais de fome. À semelhança de outras festas de inverno, como o S. Martinho, o São Nicolau ou os Reis, o “espírito natalício” assegurava um mínimo de redistribuição de bens em benefício dos mais carenciados. Não tinha Cristo prescindido da sua gloriosa divindade para vir ao mundo como um ser humano humilde e vulnerável? Importa não desviar o olhar, até porque o momento talvez seja de inflexão civilizacional e os ventos desaconselhem consumismos, desperdícios, descuidos e soberbas.

Para acompanhar, descontraidamente, o postal do Miguel Bandeira e o texto da Rita Ribeiro, segue uma pequena compilação de cânticos de Natal, interpretada pelo Ensemble Obsidienne.

Ensemble Obsidienne. Cânticos de Natal do século XV. Ao vivo. Le Magazine, 29.04.2015