Prenda de Natal. Os anjos também cantam

Dita-me a memória que o 25 de dezembro é o dia menos pré-ocupado do ano. Toda a atividade exterior suspensa, saídas só para visitar familiares. Não vai longe para encontrar um bar aberto era indispensável uma varinha de condão. Os minutos arrastam-se ecoando num vazio programático! Pior só durante a estada no estrangeiro em que nem sequer familiares havia para visitar. Uma promessa de pasmo prolongado. Por isso mesmo, uma ocasião de ouro para se entregar a entretenimentos exigentes em tempo: ver um filme, folhear lentamente um livro ilustrado, ouvir um concerto de música.
Margens convida-o a assistir a um concerto de música sacra espanhola medieval, que dura 80 minutos. Nem mais, nem menos. No dia 19 de julho de 2013, todos os astros se conjugaram para proporcionar um espetáculo único: o local (a catedral românica de Elne, nos Pireneus Orientais), a interpretação (Maîtrise de Radio France e Les Musiciens de Saint-Julien), as obras (Llibre Vermell de Montserrat e Cantigas de Santa Maria), a promoção (Festival de Radio France e Languedoc-Roussillon), o público (generoso e atento) e o registo audiovisual (envolvente e dinâmico, dirigido por Olivier Simonnet). Um regalo para todos os gostos.
Natais há muitos. Boas festas!

Recente, ainda quase sem visitantes, o blogue Margens faz questão de desejar boas festas. O “postal”, alusivo à cooperação internacional, é do Miguel Bandeira e o texto, atento à diversidade de mundivivências do Natal, da Rita Ribeiro. Abordam o reverso da atual encenação artificial da felicidade: a solidão e o sofrimento de parte substantiva da população. Temas pouco habituais neste tipo de mensagens. Convém, todavia, recordar que este reverso menosprezado foi outrora a principal vocação do Natal: a solidariedade e a partilha de modo a preservar a coesão social. Nas sociedades agrárias, a falta de cereais sentia-se já pelo Natal e ameaçava a sobrevivência até às próximas colheitas. Morria-se mais de fome. À semelhança de outras festas de inverno, como o S. Martinho, o São Nicolau ou os Reis, o “espírito natalício” assegurava um mínimo de redistribuição de bens em benefício dos mais carenciados. Não tinha Cristo prescindido da sua gloriosa divindade para vir ao mundo como um ser humano humilde e vulnerável? Importa não desviar o olhar, até porque o momento talvez seja de inflexão civilizacional e os ventos desaconselhem consumismos, desperdícios, descuidos e soberbas.
Para acompanhar, descontraidamente, o postal do Miguel Bandeira e o texto da Rita Ribeiro, segue uma pequena compilação de cânticos de Natal, interpretada pelo Ensemble Obsidienne.

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