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Restolho dos Serões dos Medos

A quarta edição dos Serões dos Medos (sexta, 24 de outubro) quase encheu o auditório da Casa da Cultura de Melgaço (com capacidade para 195 pessoas). De ano para ano, cada vez mais jovens e forasteiros. Uma iniciativa original, imaginativa e ousada, a assumir a população, simultaneamente, como protagonista e público. Em suma, um enxerto que pegou no programa mais alargado da Noite dos Medos.

Serões dos Medos. Vídeo de apresentação. Município de Melgaço, 24 de outubro de 2025

Mal começo a falar, após a exibição do vídeo de apresentação, um frisson de assombro e espanto apodera-se da audiência: uma “alma do outro mundo”, uma noiva penada translúcida, hasteada à minha esquerda, de tamanho natural, põe-se a estremecer teimosa e ostensivamente…

Não tive outro remédio, senão prosseguir o discurso, como se nada fosse.

Imagem: Noiva Penada. Noite dos Medos. Melgaço

Estive demasiado tagarela. Ainda mais do que de costume. Talvez por causa 1) da cafeína da coca-cola que os meus tios me ofereceram, b) de eventuais fluídos de papagaio provenientes da mediunidade da Mariana, sentada, eloquente e bem-disposta, ao meu lado, ou c) da intenção de aliviar a carga sobrenatural com disparates do tipo:

“há uns tempos, não me largavam os pesadelos com entes falecidos. Antes de deitar, bebia café com leite acompanhado com pão e queijo. Por obra e graça de um sexto sentido, antecipei a refeição uma hora. Desapareceram os pesadelos e as visitações do Além”.

Como nas edições anteriores, sem tempos mortos entre as 21 horas e perto das doze badaladas, confesso que acabei por sentir o espírito maligno do tabaco a chamar por mim. No fim, felicitei o Abel Marques pela organização, com destaque para o vídeo de abertura e o efeito da “boneca animada”. Disse-me que não foi de propósito. Pois, pois… acode-me o testemunho contado durante a sessão por um primo:

“O meu avô residia no lugar da Lavandeira e namorava no lugar dos Bouços, ambos da freguesia de Prado, a uma distância de perto de dois km, por carreiros estreitos, num tempo em que não havia eletricidade. Numa noite de luar, quando regressava a casa, a meio do caminho, no lugar da Barronda, sente-se agarrado pelo ombro, faz força para se soltar e vê no chão a sombra de algo que pairava no ar. Desata a correr, sem se atrever a olhar para trás. No dia seguinte, volta ao mesmo local: a boina baloiçava numa silva”.

Até para o ano, se os astros assim o entenderem! Entretanto, na próxima sexta, 31 de outubro, será a vez da Noite dos Medos.

A mobilização das identidades locais. O caso da aldeia da Varziela de Castro Laboreiro

Acaba de ser publicado na revista Trabalhos de Antropologia e Etnologia (2025, volume 65, pp. 379-398) ) o artigo “Varziela – Do comunitarismo agro-pastoril às redes sociais”, da autoria de Álvaro Domingues.

Chegou a estar previsto integrar este estudo na revista Boletim Cultural nº 11, da Câmara Municipal de Melgaço, lançada em janeiro de 2025, mas não se proporcionou.

Centrado em Castro Laboreiro, nomeadamente na aldeia de Varziela, o artigo constitui, antes de mais, um ensaio sobre a mobilização das identidades locais na era da globalização, no caso vertente um projeto de aproveitamento turístico por um influencer de um lugar (destino) recôndito com selo (#) de autenticidade cultural e qualidade ambiental.

Centrado em Castro Laboreiro, nomeadamente na aldeia de Varziela, o artigo constitui, antes de mais, um ensaio sobre a mobilização das identidades locais na era da globalização, neste caso, a propósito de um projeto, promovido por um influencer, de aproveitamento turístico de um lugar (destino) recôndito com selo (#) de autenticidade cultural e qualidade ambiental.

Para aceder ao pdf com o artigo, carregar em qualquer das imagens precedentes. Para aceder ao conjunto da revista, carregar no seguinte link: https://revistataeonline.weebly.com/uacuteltimo-volume.html

Acrescento um vídeo com o projeto de aproveitamento turístico da aldeia da Varziela programado pelo  influencer João Amorim.

Comprei MEIA ALDEIA por 100 000 € – O projeto. Follow the Sun. Colocado em 17.03.2024

Mês dos Medos. Melgaço, Outubro 2025

Noite dos Medos volta a “assombrar” Melgaço

No próximo dia 31 de outubro, Melgaço volta a acolher a Noite dos Medos, uma iniciativa que transforma o centro histórico num palco de tradição e arrepios. Cortejo temático, performances no Castelo, espetáculos de fogo e a simbólica Queimada Galega com Esconjuro das Bruxas prometem envolver toda a comunidade num ambiente de mistério e celebração. 

O evento integra um conjunto de atividades culturais que decorrem ao longo do mês de outubro (e algumas mesmo em novembro), envolvendo famílias, escolas, associações locais e o público em geral, numa edição que reforça o carácter identitário da iniciativa. A destacar uma segunda edição da Torre dos Medos, que transforma o Castelo num mundo fantástico e medonho e que pode ser visitado entre 28 de outubro e 16 de novembro; a exposição Entre Mundos e Segredos, promovida pelo Espaço Memória e Fronteira, cujo mote são histórias e vivências associadas ao oculto, das comunidades de Melgaço; e os Serões dos Medos, no dia 24 de outubro – um momento de partilha entre ciência, tradição e experiências pessoais, na 1ª pessoa. 

Será do Largo Hermenegildo Solheiro, no centro da vila de Melgaço, pelas 21h00, que se dará início à grande noite, com o tradicional Welcome Drink dos Medos, seguido, às 21h30, da apresentação pública dos trabalhos do Concurso dos Medos. Seguir-se-á o Cortejo dos Medos, pelas 22h30: com início no Largo Hermenegildo Solheiro, percorrerá a Rua Dr António Durães até ao Largo da Calçada, descendo depois pela Rua da Calçada até ao acesso do Castelo de Melgaço, pela Rua Direita, onde se desenrolarão os restantes momentos do evento. A noite culmina com a Queimada Galega e Esconjuro das Bruxas, pelas 23h15, no Castelo, seguindo-se um espetáculo de fogo e animação musical com Dj´s.

PROGRAMA DESTAQUE | 31 DE OUTUBRO 
Largo Hermenegildo Solheiro 
• 21h00 | Welcome Drink dos Medos 
• 21h30 | Apresentação do Concurso dos Medos 
• 22h30 | Cortejo dos Medos  

Castelo de Melgaço 
• 23h15 | Queimada Galega e Esconjuro das Bruxas 
• Espetáculo de fogo 
• Animação musical com Djs 

PROGRAMAÇÃO COMPLEMENTAR ATÉ 16 DE NOVEMBRO 
À semelhança das edições anteriores, a programação estende-se além da noite principal e integra diversas ações culturais em espaços do concelho, designadamente: 

• Exposição Entre Mundos e Segredos 
Patente na Casa da Cultura, entre 6 de outubro e 16 de novembro. A mostra pretende dar voz à tradição local através de histórias, vivências e testemunhos sobre o “oculto” e o inexplicável. 

• Serões dos Medos 
Na Casa da Cultura, no dia 24 de outubro, pelas 21h00.  
Sessão dedicada à temática “O 6.º Sentido”, com moderação do professor Albertino Gonçalves. O momento assume-se como um espaço de partilha entre ciência, tradição e experiências pessoais, na 1ª pessoa. 

• Contos Contigo – Histórias de arrepiar: “Tu és um monstro?” 
Na Casa da Cultura, no dia 25 de outubro, pelas 10h30. A sessão é dirigida ao público familiar, promovendo a leitura e a imaginação em ambiente descontraído. 

• Cinema dos Medos 
Na Casa da Cultura: 
– 18 out. | 10h30 – “Corrida Mais Louca da Europa” (M6) 
– 25 out. | 21h30 – “The Conjuring 4” (M16) 
Bilhetes disponíveis na Casa da Cultura de Melgaço | Custo: 3€ 
  
• Torre dos Medos 
No Castelo de Melgaço, entre 28 de outubro e 16 de novembro.  
Uma experiência pensada para os mais novos, que convida à descoberta de um mundo fantástico, misterioso e sensorial. 

CONCURSO DOS MEDOS: INSCRIÇÕES ATÉ 27 DE OUTUBRO 
Concurso dos Medos volta a desafiar escolas, grupos e entidades do concelho a apresentarem propostas criativas em duas categorias: 
• Categoria Escola: “Monstros & Fantasmas” 
• Categoria Grupo: “Feitiços & Bruxarias” 

As inscrições são gratuitas e devem ser submetidas até 27 de outubro, presencialmente na Casa da Cultura ou via email, para pmeleiro@cm-melgaco.pt. As normas de participação e a ficha de inscrição estão disponíveis aqui

A NOITE DOS MEDOS TEVE A SUA PRIMEIRA EDIÇÃO EM 2017 
Promovida pelo Município de Melgaço desde 2017, a “Noite dos Medos” tem vindo a afirmar-se como um momento cultural identitário do concelho, com forte envolvimento da população e com uma proposta diferenciadora que valoriza as tradições e as vivências locais associadas ao universo do medo, do oculto e da imaginação.

(Notícia do Município de Melgaço, 30 setembro, 2025)

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GALERIAS DE IMAGENS

Galeria 1. Cartazes (carregar nas imagens para as aumentar e aceder às legendas)

Galeria 2. Exposição Entre Mundos e Segredos – 2025

Galeria 3. Fotografias dos Serões dos Medos

Galeria 4. Fotografias da Noite dos Medos

Com o Filho no Colo – Convite

O Luís Pinto, do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), acaba de produzir o convite para a conversa Com o Filho no Colo: As Esculturas da Humildade e da Piedade, que preparo há quase três anos, desde a conferência dedicada ao “Cristo Estrábico” (29/11/2022), no mesmo local, o auditório do Museu de Arqueologia Dom Diogo de Sousa. Está previsto abrir com um momento musical pela Escola Arquidiocesana de Música Litúrgica – São Frutuoso; no fim, em jeito de compensação, um Alvarinho de Honra (da adega Quintas de Melgaço).

O Pecado. Michelangelo

Estou a abordar a vida e a obra de Michelangelo na Universidade Sénior de Braga e a concluir uma conversa sobre as imagens da Virgem da Piedade e da Humildade nos séculos XIV e XV.

Uma hora é um colete muito apertado. Não dá para quase nada. Informações relevantes não podem ser contempladas. Passo a colocar artigos com conteúdos que compensem essa falha. Uma espécie de complementos.

Começo com o filme russo-italiano “Il peccato – Il furore di Michelangelo”, realizado por Andrei Konchalovsky e estreado em outubro de 2019. Não se demora nas obras, concentrando-se na personalidade do artista e no ambiente da época. Tem a particularidade de relevar a importância da escolha do bloco de mármore a esculpir. Boa parte do filme passa-se nas carreiras de Carrara e acompanha o transporte do “monstro”. Segue o filme falado em italiano e legendado em espanhol.

Il peccato – Il furore di Michelangelo. França – Itália. Realização: Andrei Konchalovsky. Outubro 2019. Duração: 134 minutos. Em italiano, legendado em espanhol

Michelangelo e a Pietà Vaticana

O blogue Margens arrefeceu. Não obstante, continuo a pagá-lo. Ou o congelo ou lhe dou nova vida. Vou passar a utilizá-lo como uma espécie de oficina.

Hoje, 25 de setembro de 2025, inaugurou a disciplina “Sociologia da Arte e do Imaginário” na Academia Sénior de Braga. As primeiras aulas vão ser dedicadas às imagens da Piedade, sobretudo esculturas, e da Virgem da Humildade, sobretudo pinturas, ambas dos séculos XIV e XV.

Imagem: Michelangelo, Pietà, Vaticano, 1499

Para eventual consulta, retive dois documentários que podem suscitar algum interesse e agrado: o primeiro, da autoria do Prof. Raúl Castro, versa sobre a Pietà Vaticana, em português; o segundo, da autoria da jornalista e escritora Raquel de la Morena, sobre a vida e obras do Michelangelo, em espanhol.

ANÁLISE: Pietá vaticana, Miguelângelo (1499). Império das Artes, 17:57. Colocado em 22.05.2021
Miguel Ángel: vida y obras del gran artista del Renacimiento. Por Raquel de la Morena, 1:19:55. Colocado em 02.04.2023

Dionísio na Universidade e o sentido de comunidade num mundo às avessas

Terminam amanhã, 10 de maio, as “Monumentais Festas do Enterro da Gata ’24”. Este tipo de rituais estudantis inspiraram-me dois textos: “Dionísio na Universidade: a praxe como rito de passagem” (UMboletim, 1997); e “O sentido de comunidade num mundo às avessas: o imaginário grotesco nas tradições académicas de Braga” (FORUM, 2001). Há, portanto, mais de duas décadas que ando às voltas com o “mundo às avessas” (cf. “A benção escatológica num mundo às avessas – os serviços da tarde na festa de São João de Sobrado”, 2024).

Seguem, em pdf, os artigos “Dionísio na Universidade: a praxe como rito de passagem” (UMboletim, 45. 7 Abril 1997, pág. 1-2); e “O sentido de comunidade num mundo às avessas: o imaginário grotesco nas tradições académicas de Braga” (FORUM 30, Jul-Dez 2001. Pág. 77-91).

A benção escatológica num mundo às avessas – os serviços da tarde na festa de São João de Sobrado

São João de Sobrado. A festa da Bugiada e Mouriscada é uma obra coletiva, lançado em meados de março de 2024, da autoria de Rita Ribeiro, Manuel Pinto, Albertino Gonçalves, Alberto Fernandes, Luís Cunha e Luís António Santos. Resulta de um projeto coordenado pela Rita Ribeiro. Aborda a festa que ocorre no dia 24 de junho, de manhã cedo até ser noite, na vila de Sobrado, do concelho de Valongo. Uma iniciativa e um espetáculo assombrosos que este livro pretende ilustrar, a começar pela quantidade e qualidade das fotografias.

Cumpriu-me o prazer duplo da escrita e, sobretudo, da observação dos “serviços da tarde”, uma componente autónoma da festa com raízes seculares. Segue o texto resultante, acompanhado por um excerto com as páginas iniciais do livro (capa, ficha técnica, índice e nota introdutória).

Variações sazonais: castrejos, emigrantes e esquimós

Existem povos que conhecem alterações cíclicas, multiplicando lugares de residência, ritmos e estilos de vida. Marcel Mauss relevou o fenómeno no clássico e extenso “Ensaio sobre as variações sazonais das sociedades esquimós” (Année Sociologique, v. 10, 1904-05). Inspirou-me um artigo sobre as mudanças nas formas de estar e sentir dos emigrantes portugueses em França na segunda metade do século XX (com Conceição Gonçalves, “Uma vida entre parênteses. Tempos e ritmos dos emigrantes portugueses em Paris”, Cadernos do Noroeste, IV, 6-7, 1991). Na realidade, estas mudanças cíclicas são mais correntes do que, à partida, nos dispomos a conceber.

Castro Laboreiro constitui um exemplo desta alternância. Ainda há memória de castrejos a viver no vale no inverno, nas “inverneiras”, e subir para as “brandas” no resto do ano. Quase tudo muda: a atividade, as relações e os comportamentos. Entre os muitos estudos, tenho como referência o artigo “Brandas e Inverneiras: o nomadismo peculiar de Castro Laboreiro”, de José Domingues e Américo Rodrigues.

Rocha Peixoto. Castro Laboreiro, 1902

Seguem, em pdf, os artigos mencionados:

  • José Domingues e Américo Rodrigues, “Brandas e Inverneiras: o nomadismo peculiar de Castro Laboreiro”, 2007, Arraianos 7, pp. 10-20. https://www.academia.edu/6875449/_Brandas_e_Inverneiras_o_nomadismo_peculiar_de_Castro_Laboreiro.
  • Albertino Gonçalves e Conceição Gonçalves, “Uma vida entre parênteses. Tempos e ritmos dos emigrantes portugueses em Paris”, Cadernos do Noroeste, IV, 6-7, 1991, pp. 147-158.
  • Marcel Mauss, “Ensaio sobre as variações sazonais das sociedades esquimós”, Sociologia e Antropologia, Biblioteca Sectorial – UFES, pp. 425-505; ed. original Année Sociologique, vol. 10, 1904-05.

Apresentação de livros: Festas de São João de Sobrado / Mosteiro de Tibães

Sexta, dia 15 de março de 2024, pelas 21H00 no Centro de Documentação da Bugiada e Mouriscada, em Sobrado, Valongo, decorrerá a apresentação do livro “São João De Sobrado: A Festa da Bugiada e Mouriscada”, da autoria de Rita Ribeiro, Manuel Pinto, Albertino Gonçalves, Alberto Fernandes, Luís Cunha e Luís António Santos. Os promotores são a Comissão de Festas do São João de Sobrado 2017 e a Associação São João de Sobrado.

Sábado, dia 16 de março de 2024, às 15 h, na Sala do Capítulo do Mosteiro de Tibães, decorrerá, promovida pelo Grupo de Amigos do Mosteiro de Tibães, GAMT, a apresentação do livro “Para uma interpretação do mosteiro: Tibães do espaço à vivência, da materialidade à simbólica”. A publicação será apresentada pelo Professor José Carlos Miranda, da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais (UCP – Braga).